quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A turma do Cadastro

Cheguei a Salvador em agosto de 1971, indo da agência do Banco do Brasil de Brejo Santo, onde tomara posse e passara quatro anos.

Na Boa Terra minha primeira localização no banco foi o setor de Cadastro, no terceiro andar do edifício da Agência Centro-Salvador, construção de nove andares à Avenida Estados Unidos, no Comércio, segunda rua depois do Porto, onde trabalhava algo por volta de 750 funcionários. Esse o primeiro impacto com que me depararia, pois viera de agência do interior com 35 funcionários.

No Cadastro encontrei grandes amigos, pessoas na sua maioria procedentes do interior baiano, alguns poucos na minha faixa de idade, vinte e cinco a trinta anos. Guardo suas imagens no íntimo da memória quais preciosidades raras que marcam de permanecer ainda por muito tempo integradas lá numa fase de apreensões e dificuldades, medos e sonhos, espécie de saudade de mim naquela época da vida, que retornam como facilidade à minha tela mental quando em vez todas aquelas personagens uma a uma: Rômulo Serrano, artista plástico considerado, de quem me aproximei face ao gosto pelas artes; Aldo Castanha Bezerra, que trabalhava em birô próximo ao meu e sempre demonstrava carinho e paciência; José Renato; Hugo Bezerra, sobrinho de Aldo; Seu Aníbal, o titular da carteira que substituía Altino Amazonas, licenciado devido atropelamento no trânsito, irmão do político brasileiro João Amazonas, fundador do PC do B; Walter Leite, que sofrera um AVC e falava com dificuldade; Benedito Paraguaçu; dois outros que, de tanto Serrano só chamar pelo apelido que ele mesmo pusera, guardaria apenas os codinomes, Leãozinho e Jegue Novo; Cesário; Seu Carlos Reis Lopes, a quem Serrano dedicava particular atenção, porém de jeito equivocado, pois a ele causava constrangimento devido às caricaturas que o retratava de modo jocoso, fazendo rir os colegas e sofrer a vítima (agora denominaria bullying no ambiente de trabalho, aquilo que presenciei); um escritor e professor de Filosofia da Universidade Católica, ex-seminarista, de quem me foge o nome; e os fiscais de cadastro, Jesuíno, um apaixonado por livros; Freitas Neto, anterior líder sindical que enfrentara as barras antes da Revolução Militar, nos embates da década de 60; Carvalho, depois titular do setor jurídico do próprio banco; e Waltinho, de quem adquiriria um rádio Transglobe Philco que me acompanhou logo data e ainda chegaria a Crato, no meu regresso.

Bom, acho que lembrei quase todos eles, restando talvez um ou dois, que permanecem à sombra das emoções baianas daquele período rico de oportunidades e profundas saudades do Ceará, aonde, por absoluta ausência de conformação na distância, tornaria com ânimo de permanecer, isto que acontece até os dias de hoje.

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