terça-feira, 27 de agosto de 2013

Lampião no São Domingos

Numa de suas vindas ao Ceará, no município de Lavras da Mangabeira, Sítio São Domingos, de propriedade do coronel Raimundo Augusto Lima, Lampião acampou com o seu bando na mata acima da represa do açude. Avançava de quando em vez pelo Estado, sem, contudo, desenvolver ações de saques e violência nas cidades e vilas, em respeito ao Padre Cícero, segundo afirmava.

Para conseguir achar os caminhos de saída do sítio, o Rei do Cangaço pegara o vaqueiro de nome Pitéu e passara a utilizá-lo de guia. Quando souberam disso, as forças vieram no seu encalço.

No período noturno, esboçou-se a perseguição ao bando, através de dois grupos armados. Um comandado por tenente da Polícia e outro por Assis Viana, ligado ao proprietário das terras.

Na passagem de cancela que dava acesso à manga do São Domingos, confundiram-se os grupos perseguidores, pensando tratarem-se do perigoso inimigo e terminaram trocando tiros entre si, ocasionando alguns feridos de ambos os lados.

À distância, enquanto ouvia os disparos do combate acidental, o bandoleiro comentou:

- A canalha está se acabando com eles mesmos – e de onde se achava, pelo barulho, estimou quantos rifles, mosquetões e fuzis eram utilizados na refrega.

Daí, um dos seus comparsas sugeriu:

- Virgulino, vamos lá dar um ensino naqueles macacos.

- Não, eu não quero briga. Quero, sim, encontrar o jeito de sair desse canto.

Mais tarde, junto da cerca da manga, ao escutar a aproximação da volante, ordenou o bando que se atarraxasse no solo, em meio ao capim seco da mata, todos permanecendo no mais completo silêncio.
Junto deles, Pitéu também manteve o sangue-frio.

Nessa hora, igual com o bando inerte na sombra dos arbustos, mediante a claridade da lua, viram quando Assis Viana, agarrado em duas estacas, subiu nas varas da cerca, quase em cima deles, e mostrou-se todo, de peito aberto. Os bandidos observavam toda a cena e nenhuma reação esboçaram.

Antes de clarear o dia, tomaram outro rumo e levaram consigo o vaqueiro durante algum tempo mais. Lá adiante, em ocasião favorável, Pitéu viu-se posto em liberdade, recebendo de pagamento do famigerado bandido um rifle novinho em folha, munição, um animal de montaria e dinheiro, a título de pagamento pelos serviços prestados.


(História ouvida de Luiz Lacerda Leite).  

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