domingo, 16 de setembro de 2012

Touro Novo




Por volta de 1963 acontecera na Quadra Bicentenário, em Crato, algumas lutas de vale-tudo protagonizadas por lutadores cratenses, o mais famoso, Vanda, respeitado pelo porte físico, músculos, altura e coragem, enfrentando nos ringues visitantes trazidos de outros lugares. Desses, guardei o nome de Touro Novo, lutador baiano, cidadão parrudo, tez escura e porte de atleta valente, que se apresentara em noite memorável daquele ano diante de plateia admirada com a ferocidade das pugnas oferecidas nalgumas oportunidades. 

Menos de duas décadas me vi em Salvador, segundo semestre de 1978, aguardando vez para cortar o cabelo numa barbearia próxima ao Terreiro de Jesus, e chegou, na mesma intenção, senhor forte, simpático e conversador.

Eu lia alguma publicação e escutei pedaços da prosa do cliente, já conhecido no salão, a narrar acontecimentos da sua vida. Vim saber, então, que ele, na juventude, fora respeitado praticante de luta livre, coisa e tal. Andara pelo Brasil exercitando o esporte brutal, disputando pelejas e vencendo adversários conceituados. Contou, contou, e de tanto falar, terminou revelando que o sucesso lhe abrirá portas, sim, porém enfrentara, em momento trágico das histórias, situação insustentável e nisso tivera de cometer um homicídio fora dos ringues. 

Face do acontecido, narrava Touro Novo, sofreria o constrangimento da lei penal, naquela ocasião ainda cumprindo a condenação em regime aberto, dados os benefícios das fases posteriores da pena. 

Logo revi os blocos de memórias e identifique na fisionomia daquele homem amadurecido, apanhado pelo tempo, o mesmo gladiador feroz do combate guardado na lembrança. Livros abertos das escolas desse chão; quantas mudanças individuais. Descera do pódio ao presídio nas frações simples de única geração. 

Depois, vista a prioridade dos eventos dessas lutas atuais, regressos aos períodos da agressão humana ao foco dos acontecimentos, UFC, televisões sensacionalistas, figuras altivas e machucadas pelos golpes da barbárie, a exigir controle do instinto animal, perto, perto, os exemplos das horas que dividem fracasso e grandeza no território da fama.      

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