sábado, 8 de setembro de 2012

A árvore inútil



Laranja madura em beira de estrada é azeda ou tem bicho, diz o povo. Esta afirmação lembra uma história clássica dos chineses, escrita por Chuang Lzu, mestre da religião taoísta, A árvore inútil.

Perdidas no tempo, ali permanecem as árvores inúteis à beira dos caminhos. Enorme, porém retorcidas pelos ventos, feridas de raios, furadas de cupim, desengonçadas... Vem o marceneiro e comenta que aquela madeira de nada serviria, pois não daria tábua linheira para a confecção de mesas, cadeiras, armários, esquifes, bancos. Já o carpinteiro desconfia da resistência de seus galhos na montagem das cobertas, produção de portas, janelas, barrotes. 

Essas árvores também nada frutificam nos períodos da safra. Pássaros pousam nos seus ramos, contudo logo disparam apressados a voar pelos céus misteriosos. As cigarras demoram pouco grudadas ao caule vetusto das plantas inúteis, e buscam outros troncos mais confortáveis aos cicios que lhes são próprios no silêncio dos estios.

Nas quadras primaveris, quando matas viram festa e decoram das tantas e variadas cores os belos campos, ainda assim as árvores inúteis permanecem senhoras da neutralidade, conformadas ao preto e branco das inutilidades naturais para despontar nenhuma flor e alegrar a paisagem. 

Os viajantes macerados pelas jornadas extensas observam a árvore sem função, no entanto, fogem de sentir o instinto de querer repousar à sombra de sua copa, porquanto quase inexistiriam as folhas que lhes pudessem oferecer conforto refazedor.

Inúteis deveras aquelas árvores abandonadas à beira dos caminhos, deixadas absoluta ao acaso dos degredos, face indicarem ausência de finalidade que crescessem aos olhos dos circunstantes. 
E ninguém, na faina chamada vida, se interesse, na verdade, pelo que ofereça a árvore inútil, perene a existir longe de incentivar quem quer que fosse a derrubá-la, utilizá-la.

Daí o autor, Chuang Lzu, aufere lição preciosa através desse quadro conhecido das árvores perdidas de tantas estradas rumo a lugar algum, e sentencia magnânimo que se seja árvore inútil nas vivências desse mundo a fim de encontrar paz longe dos burburinhos dessas vaidades humanas.

Assim, a sua árvore inútil. Inútil? Plante-a então no terreno baldio. Sozinha. E caminhe a esmo, em torno dela, descanse à sua sombra; Nenhum machado ou decreto proclamará o seu fim. Ninguém jamais a abaterá. Inútil? Que me importa!  

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