A bem dizer, somos quais significados do que fomos e que adiante seremos. Meros significados, pois, em transição deste a outro universo. Naves de sons, visões, contos, letras, números, aventuras. Blocos inteiros da ação dos tempos em volumes dispersos pelas ruas do Infinito. Olhos postos nas próprias páginas, quase nunca imaginamos o que, na realidade, viremos ser. Conteúdos, isto sim. Conteúdos de significados na gestação inabalável do Tempo, este senhor absoluto do quanto existe (existirá) durante as eras sem final conhecido.
Desses conteúdos, formamos, por isso, as criaturas individuais,
mergulho das espécies neste Chão de tantos seres que aceita as contingências e
as espécies. Um a um, sujeitos da ação acolhedora das inúmeras circunstâncias.
Elaboramos o que avaliamos ser, no entanto. Todos e nenhum, a braços com os ditames
da sorte na loteria dos destinos. Vestimos, grosso modo, os diversos trajes.
Representamos infinitas histórias através da arte de viver, sejam através de música,
arquitetura, literatura, dança, pintura, escultura ou cinema. Nisto fazemos da
existência uma fórmula de viver dalgum jeito. Disso nascem os dias quando aqui
movemos a massa informe que ainda somos.
Através disto, da ação do Tempo em nós, recriamos ou
destruímos o mundo em volta. Aceleramos e diminuímos o ritmo dos dias nos
textos que criamos em nós por meio das palavras que articulamos. Joguetes de
nossa mesma ignorância, plantamos e colhemos os frutos das atitudes e largamos ao
léu o bastão aos que chegam com igual necessidade de conhecer a que viemos.
Foram muitos e mais serão os que vêm com iguais expectativas
de, lá num momento, desvendar o vão das dúvidas e revelar a outros as camadas e
significados que encobrem nosso alvedrio. Que bom que seja destarte, que
chances sobrevivam ao nosso desespero, nossas angústias. Quem sabe achemos o
senso dessa plenitude e descubramos de todo o pouso da compreensão definitiva,
desejo de todos nessa imortalidade que ora somos e precisamos trazer à tona por
meio das palavras exatas. Só então daremos de conta das estatísticas parciais
que conduzimos na alma, de que nem sabemos em essência.
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