Do Amor procedemos, e com Ele fomos criados. Assim, ao
Amor tendemos, e a Ele estamos consagrados. Ibn Arabi
O medo que, de si mesmo, isso ocasiona, de querer fugir sem
ter aonde se esconder. Instinto do ego, a luta de esquecer o passado e correr
ao futuro prevalece. À medida do tempo, vem o gosto de conhecer o abismo da Consciência.
Desejo ardente de neutralizar a ausência incontida, fonte de tantas angústias,
daí esse fator que permanece no querer das criaturas. Ninguém que seja capaz de
avaliar a importância de querer algo com toda força. Nas doses extremas de dor,
correm à embriaguez, à fome de conter, neutralizar, o que restringe descobrir o
gosto do equilíbrio. Mascarar a própria presença. Esses fantasmas chegam, passo
a passo, diante da solidão. Quando seria o instante de encontrar o ser que
somos de verdade, nesse momento avançar nos apetites da matéria é desfazer a
oportunidade do encontro.
São muitos os nomes a isso, à feliz realidade no encontro
consigo mesmo. O vazio deixado pelo tempo que escorre no firmamento somos nós.
Aprendizes do Destino, e apenas observamos um jeito de responder à maior das
interrogações. Frutos doces da Eternidade, contemplamos o Infinito feitos peças
ocultas desse imenso painel das luzes em movimento. Quantas vezes, olhos postos
no mistério, observamos finais do dia sem conhecer a raiz do que nos trouxe
aqui. Fronteira entre o tudo e o nada, tão só avaliamos grosso modo o motivo da
estar neste mundo. As causas, os valores que viajam pelos céus.
Talvez por isso de ser assim, padeçamos, questionemos a
forma ideal de tocar as fímbrias das madrugadas e que possamos despertar, de
uma vez por todas, deste sono que nos envolve e, nalguns lugares, embriaga. Nem
de longe há o prumo definitivo de conter o desenrolar dos séculos com
facilidade. Pulseiras do teatro desse tempo, avaliamos constantemente a solução
de tudo. Fitamos longe as luas e adormecemos nos sonhos. A música das nuvens
que passam bem que pode, lá um dia, tocar o nosso coração e revelar o enigma
que ora somos. Estejamos atentos, pois.
(Ilustração: Ibn Arabi, reprodução).
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