domingo, 6 de novembro de 2022

Na floresta da alma


Quantas vezes a percorrer tantos lugares, viagem que não acaba mais. São trilhas batidas, estradas longas, largas, roteiros sombrios nos escombros das gentes. Paragens arriscadas, abismos profundos, alamedas de perdidas esperanças. Tocas escuras de saudades insistentes. Armadilhas, clareiras imensas de alegria, luzes intensas de entusiasmo. Animais ariscos, feras perigosas, aves multicoloridas. Árvores frondosas, de troncos ajaezados quais santuários escondidos nos séculos distantes que se foram e deixaram suas imagens sagradas. Sussurros. Vozes acaloradas de multidões enfurecidas. Luares que projetam silhuetas de vultos esquivos. Olhares atentos de selvagens afoitos. Narrativas de folhagens vagando ao vento das tardes de julho. Amores mil ali abandonados ao primeiro desespero. Casinha de portas fechadas de duendes adormecidos. Seres mágicos, místicos, poderosos. Telas tecidas a ferro e fogo nas esquinas dos pecados. Pisadas macias nas folhas secas das estações anteriores. Céus misteriosos de nuvens multicores. Busca desesperada aos derradeiros raios de sol. Falas que se sucedem nos paredões afogueados das madeiras. Personagens eternos guardados no sentimento das flores. Em nós as marcas deixadas pelo passado dolente. O zumbido de insetos que rugem no pensamento. Lembranças. Gemidos. Clamores. Na música dessa festa, réstias de vida que sobrevive a todo custo na alma da gente. Nem de longe imaginávamos pudessem lá um dia resistissem e quisessem permanecer onde antes só nós havíamos habitado. Enquanto isto, muitos eus ali reunidos alimentam as comportas da consciência e digere o quanto de sonhar vidas afora. Aromas exóticos. Companhias agradáveis. Ruídos e sinais de felicidade a todo o momento. Acalmar o senso de si e mergulhar nos lagos da distância mais longínqua na certeza de regressar aos pagos da justiça. Das horas. Da Verdade. Dos tempos. No caule das dores, essas marcas de cicatrizes deixadas pelas fadas que fogem sem outro jeito. Longe das revisões do que escrevo, aguardo aqui palavras que sustentem o desejo de continuar, e pronto.

Um comentário:

  1. ..." Pisadas macias nas folhas secas das estações anteriores. Céus misteriosos de nuvens multicores. Busca desesperada aos derradeiros raios de sol. Falas que se sucedem nos paredões afogueados das madeiras. " Bem assim na vida e nos sonhos.

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