terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O eterno retorno


Nesta tarde acinzentada de janeiro aqui do pé da serra, deu de me voltar um sentimento bem remoto, dos tempos da infância, de quando, depois de passar o mês de férias no Tatu, via minha mãe organizando os trens para regressar ao Crato, trazendo a família. Eu ficava sem planos, andando acima e abaixo pelas estradas do sítio já o coração apertado de saber que, logo no dia seguinte, de novo não mais estaria naquele lugar que tanto amo, onde nasci e passei os quatro primeiros anos.

Algo assim como se o mundo viesse abaixo e nada fosse como antes fora; deixava pedaços de mim naquelas matas, cercas, currais, casas, árvores, marmeleiros, o brejo, o engenho, as cancelas, os animais, um fim de era talvez, o que nunca compreendi bem porquê. Dor de não ter tamanho invadia minha alma e me parecia que ninguém sentisse o mesmo, pois se animavam de voltar à cidade lá longe qual atitude natural, que a mim quase dizia só da saudade que amarguraria dias afora. Olhava o Açude Velho, a varanda da casa de meu avô, nossa casa, a igrejinha, o movimento dos moradores, as comadres que viviam lá em casa, os meninos com quem brincava, aquilo tudo sumiria assim como num passe de mágica, e ficaria um ano a esperar, outra vez, reviver aquela felicidade que adormeceria, sem dúvida, no outro dia pela manhã ao viajar.

Um sentimento forte esse que às vezes cresce no meu peito e chama atenção ao momento atual da existência. As pessoas, os lugares, os sons, as cores, o tempo, o céu, o clima, as nuvens, os próprios pensamentos, as lembranças agarradas dentro da gente, nesse tudo de agora que somos. E aquela saudade do Tatu de novo pulsa em mim tão alto de não saber aonde isto de hoje irá parar num dia, em que oceano, em que outro universo que seja, a tocar nas pessoas uma urgente necessidade de exercer o momento qual aquilo que jamais irá se repetir no decorrer do Infinito.

3 comentários:

  1. Acho que até conseguí me ver no "Tatu"olhando o açude velho, a cerca, currais...Um suceder de cenas que se misturam e me trazem, pra perto, o Tatu que nunca conheci...

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  2. Ó tempo deixa marcas...feluzes!saudades dessa felicidade.neem a saudade passa.e a felicidade fica!

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  3. O lugar em que nascemos, nossa infância e o tempo pretérito nos traz muitas saudades, em especial, quando se vive num lugar mágico e bonito como o Tatu, sem falar do valor histórico e sentimental da família Augusto Leite. Lamento o rumo que essa história tomou.

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