sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Herdeiros do mistério maior


Por mais que tentem fugir, todos marcham irrevogavelmente ao centro. Cercados de tantas dúvidas do que não estamos cientes, lerdamente avançam na direção de um constante agora de que desde sempre seremos. Grupamentos vários, pois, deslizam pela paisagem lá de fora, conquanto a resposta vive no íntimo dessas mesmas criaturas artesanais do destino. Esses tais seres encapuzados, sombrios, frios, cadenciam seus passos na firmeza de que, no interior do templo de si próprios, descobrirão essa chama que nunca há de apagar. A isso viemos até aqui onde ora estamos.

Inoculados de sentimentos ainda provisórios, alimentam a farsa do desaparecimento sem ter aonde sumir, senhores do mistério que habita os corações. Vivem o drama da Criação na própria pele, enquanto fervem de desejos vagos pelos corredores do Infinito.

Face ao ritmo de um ser que apenas inicia jornada, pisam a sombra dos séculos e adormecem aos braços aparentes da morte, naquela visão antiga de que pensavam ser origem e fim, no entanto. Às vezes passeiam, durante o verão das bestas, e caem nas armadilhas da sorte incerta das quantas madrugadas que eles mesmos plantaram invés da esperança e da fé. Calejados pelas dores do parto que carregam no ventre dessas almas, sonham acordados nas ocasiões de reconhecer o objetivo que transportam.

Eles, nós, todos, vagamos destarte perante o Eterno que nos observa e alimenta, no invisível das criaturas em movimento. Transportam o néctar da salvação dentro do peito e fervem de ressentimentos de não ter encontrado de vez a porta dos céus na ação das estações.

Bem isso que eles, nós, são e sustentam nas estradas afora, nas cláusulas do Tempo. Doces selvagens da felicidade, sabem, quase sem querer saber, o que lhes aguarda logo depois das dobras do Infinito, e adormecem intranquilos nas guerras cruentas deste Chão. Eles, soldados de Si, heróis da Eternidade.

(Ilustração: Heróis: Marvel e DC).

Um comentário:

  1. O que nos aguarda logo após as dobras do Infinito? Uma pergunta que merece uma profunda reflexão...

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