Desde lá de longe que guardo comigo essa impressão das vidas vividas noutros quadrantes inimagináveis em termos atuais. No íntimo das eras, bem de remotas camadas, há uma memória independente de mim. Ondas sucessivas de lembranças que invadem, na maior sem cerimônia, o salão das festas do pensamento e trazem às vezes essas recordações dos tempos idos nas distâncias quiméricas. Acho que todos são assim, esses memorialistas inveterados daqui do Chão. Calados, arrastam fiapos das vivências que restaram gravadas pelos lastros desaparecidos das passadas existências. Disso daqui que ninguém foge, ainda que deseje e nem sabe o que seja, nem de onde veio. Nesse esforço das tantas horas, caem por terra certezas que carregavam consigo na mochila do tempo, no entanto andarilhos largados nos próprios passos à procura do Infinito das eras.
Eis bem o que somos, haustos de memórias trazidos no
decorrer das gerações donde viemos e aonde iremos, num intervalo esquisito que
somos agora entre as paredes desse corredor. Juntamos os fragmentos das
existências que conhecemos e nos conheceram, tais perdidos náufragos dos dias
esquecidos pelas estradas de nós mesmos. Tangemos desse modo o rebanho dos
nossos eus que recuperam sonhos e alimentam encontros inesperados de si na
vastidão dos hemisférios que significamos.
Afinamos o instrumento da sorte do que seremos um dia de
tudo. Compomos a longa maestria de melodias encantadoras com as quais
apaziguamos o Universo em nosso coração. Tocamos quantas luas nas viagens
astrais que fizemos pelas galáxias do mistério, e cá nos acalentando no desejo
da paz de que ouvimos falar na infância e jamais esquecemos. Domar pois a fera das
nossas angústias e fixar para sempre o ritmo do Amor pleno, missão das longas
noites de ilusão que largamos nas jornadas ao vento.
Pouco a pouco desvendamos, com isso, o enigma do ser que
transportamos nos desertos deste mundo, na firme esperança de chegar aos céus
do sentimento e permanecer na casa do nosso Pai e Senhor Nosso.
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