Passo ali na Praça Siqueira Campos e vejo os tantos parceiros das mesas que viajam nas manhãs, perdidos nas horas que transcorrem e lhes abandonam, desfeitas na indiferença delas ao fluir daquelas condições absortas.
Sempre lembro as noitadas de que se têm notícias da decadência de fortunas, em chácaras, terraços e quintais; pessoas que tudo lançaram num único lance de sorte e viram sumir das mãos o que juntavam décadas a fio em outras noites de sucesso. Embriaguez, febre, temeridade, tão bem contadas por Dostoiévski na sua obra O jogador.
Desde que me entendo de gente, nas terras do Cariri, sei de nomes que perderam as posses nas mesas de jogos, além dos que as obtiveram em sucessos, e estabeleceram patrimônios. As cidades possuem suas bancas de jogo, tradicionais lugares que consolidam a herança das décadas passadas. Eles, os jogadores aficionados, alimentam o costume e, em torno de si, chegam os tracionais perus, torcedores silenciosos e clássicos. Vivem as intensas emoções desse furor que os domina, espécie de vício misterioso, dotado de contrições e desesperos, dependência e charme, quedas e ascensões.
O hábito do jogo por vezes ganha âmbitos coletivos, nos estádios, nas quadras, nas pistas, invadindo raias de normalidade e nutrindo de circos na função de acalmar a fúria das multidões. Estudiosos estimam serem catarses coletivas, aonde populações desaguam frustação, carências e impossibilidades, transformadas em competição pública, expressão das limitações e motivo de paixões e júbilos dos grupos sociais.
Na sua pequenez, os humanos descaem à busca de respostas junto aos oráculos das sinas, os jogos e as guerras. Acesos ao fervor dessas aventuras do invisível, apostam com o Tempo o direito de ser feliz, ainda que seja só durante poucos quadrantes dessas migalhas e a mais transitória das felicidades.
(Ilustração: Thedor Rombouts, em Os jogadores de carta).
O jogo, jogador ou torcedor é de certa forma uma fuga da vida diária muitas vezes monótona e sem graça. É também, em alguns casos, a busca do ganho fácil, seja nas loteria , nas mesas de baralho ou em outras modalidades de jogo de azar. Vejo pessoas com míseros. Salário fazer apostas nos mais diferentes tipos de jogo, casos em quechega a ser viciaste, como os jogos de bingo, em que gera dependência e a pessoa tem que passar por tratamento para se livrar da decência. Lamentavelmente.
ResponderExcluir