quarta-feira, 27 de junho de 2018

Paisagem lunar


Desde sempre lembro as noites de Lua Cheia, que elas transformam o que seria a noite em uma festa de beleza e sonho. Enquanto dentro da gente as histórias acontecem noutra velocidade, essa força de poder inigualável acorda a verdadeira realidade na gente. Dos tempos remotos, as sombras das noites de lua estendem visões que reclamam dimensão entre a percepção visual e as sensações espirituais inestimáveis. Vezes sem conta, nessas noites revivem os espectros de nós mesmos que se foram a reclamar participação neste mundo concreto de formas e fardos. Um eu inesperado assim regressa de armas em punho e exige espaço de consciência, a determinar que recolha os blocos de matéria largados na sala principal da personalidade, e impõe códigos de honra e dignidade amorosa. Constrange até, a superar as leis do país, a influenciar os sentimentos vulgares. Nessas horas, lá vem de novo saudades antigas, arcaicos tremores que bem pensávamos haver desaparecido nas brumas das madrugadas de séculos amarelecidos. Mas, não, essa força estranha chega virando cangaço e caustica a indiferença das personagens esquecidas no além do passado. 

São quais nessas tais noites de Lua Cheia que correm os animais da criação do imaginário. Eles vagam soltos fazendo assombração e susto às pessoas. Reviram o cisco dos olhos da escuridão dos amantes solitários e fazem chorar os incautos que dormiam sob as recordações abandonadas. Porquanto esses animais da penumbra possuem escritura de nós que nem sabíamos existir nos cartórios do mistério. Vale quais documentos de valor indiscutível perante os tribunais da Eternidade. Que fizeram dos amores intensos perdidos? Em que gavetas esconderam as dores das paixões desenfreadas? Aonde marcaram os encontros das ausências com os desejos impossíveis?

Exército silencioso de guerreiros fiéis invade a alma da gente e prega peças, a convocar o que somos nós, farrapos arrastados no comboio do adeus, a dizer das responsabilidades negligenciadas e o preço a pagar de saudade. Isso tudo nas noites plácidas da Lua Cheia, pouso dos pássaros das noites esplendorosas que sempre regressam inexpugnáveis, quando pensávamos nem existirmos mais, no entanto tão estamos eternos quanto essas noites mágicas e belas preenchem o vazio do coração.

Um comentário:

  1. Cada dia seus textos ficam mais ricos, linguajar culto, e sensível. Este sobre a lua cheia então, excelente. Realmente é nestas noites banhadas luz da lua que despertam em nos os mais diferentes sentimentos. Saudades, lembranças de momentos felizes da nossa vida, desperta também um desejo de escrever é aflora o lado poético, de expressar nossos desejos e sonhos. Pensamentos vagueiam pelos nossos desejos contidos. Mas é um espetáculo magnífico, no mar então é um deslumbramento. Você escolheu muito bem a foto para ilustrar este texto. Parabéns! Um abraço amigo Emerson.

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