segunda-feira, 18 de junho de 2018

Sucatas humanas

E seres tão parecidos... Tão iguais... Iguais? No entanto nunca foram de distância tamanha, porquanto nos livros antigos eram bem menos os habitantes da Terra. Uns, cheios de ladrilhos e flores; outros, bactérias de beira de esgoto, debaixo das pontes largados fora, quais inúteis, enferrujados, extremas de uso, desiguais. Os velhos humanos, os homens-objeto desta era de tecnologia inigualável, exatidão matemática da produção meticulosa e farta, porém fouxa na fé, insegura na sinceridade; monturos de lama na moral e nos costumes; de ética impossível, improvável na correlação de forças da imperfeição desvairada. Eles, nós, mais uma vez, ais dos apocalipses em elaboração, apenas baixamos a cabeça e seguimos os apetites da sorte.

Indignação de quando vemos o abismo que circula as histórias narradas com indiferença. Vemos as pobres alimárias voltadas adentro e esquecidas do final que lhes aguarda; do jeito que aguarda os que são atirados nos campos abandonados lá longe. As limitações dos tais valores morais que praticamente sumiram nas curvas das doutrinas. Fusão de necessidades com o egoísmo, os homens deste momento, salvas raras exceções, trabalham no sentido das vaidades e dos apegos. Desejo pelo desejo. Prazer pelo prazer. Ilusão pela ilusão. Máquinas de angariar sobrevivência a todo custo, vestem zumbis de quatro patas que vagam nas noites, soltos nas nos institutos e sensações. Reis dos planos funerários, adoçam de fel os pastos no suor do rosto alheio. 

Autores desta série, carnívoros obesos da fama e dos penhores, a si pouco importa o preço do que venham obter nos mercados em brasa. Querem chamas, querem fervor, sem saber do mar e da temperatura. Bom, parar, ficar quieto e esperar. Existe, contudo, o setor interno, lugar próprio dos indivíduos; a liberdade, no seio de quem fermenta a salvação. Na Natureza, desde sempre, o procedimento do Poder sobre poderes menores, isto também em nós qualquer um. Há nova história, a contar as folhas desta floresta, o infinito das existências.  

(Ilustração: Pieter Bueguel o Velho, em A dança dos camponeses).

2 comentários:

  1. ♡♡♡♡
    Como sempre, gostei bastante.
    ♡♡♡♡

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  2. Como sempre gosto muito dos seus textos. Este então está muito real e presente, as marquises dos prédios de Fortaleza amanhecem lotadas de moradores de rua dormindo em farrapos e jornais. Passei o resto do do dia pensando o que eu posso fazer por estas pessoas. É estarrecidos as condições sub-humanas que estes seres humanos sobrevivem. Chega a nos dar uma certa revolta de saber que estamos vendo é resultado da corrupção deslavado dos nossos governantes, sabemos também que não dá para esperar apenas pelo governo, temos que arregaçar as mangas e fazer alguma coisas por estas pessoas, Sei que você já faz um trabalho social, não sei bem o que é como, mas sei que faz. Felizmente existem pessoas como você. Que bom seria se tivéssemos outros Emerson que com o seu perfil, por certo teríamos um mundo melhor. Um abraço.

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