Poeira de tempo
Sobejos da destruição. Monturos das estrelas. Sucatas de civilização. Várias, várias palavras que juntas significariam esse fastio de si mesmo de que ora padecem os humanos. Avançados intelectualmente, orgulhosos de não caber mais dentro das latas estreitas que criaram, viajam feitos morcegos ao sabor dos guinchos que emitem. Escarcaviam, mergulham fundo a piscina da incapacidade de amar que os alimenta aos albores das vaidades, no entanto, vadios largados nos séculos, transcrevem na alma as escrituras dos bens que lhes prendem ao chão, e aqui permanecem, a deixar pouco a pouco este mundo de saudades. Máquinas de vazar superfícies, resvalam no passado o quanto souberam e descobriram; inventaram e plantaram de pés nos apegos, contudo seres cientes de regressar algum dia às asas do mistério e habitar o chão dos insensatos, e ainda querem continuar antigas tradições de intrigas e pecados. Motores de egoísmo, dominam a exatidão das matemáticas sem controlar as paixões. Realidade forte, porém que arranca da fome do desejo os mochileiros das encruzilhadas em fim.
...
De vagar entre palavras soltas, certa feita resolvem largar as amarras que os mantinham até então prisioneiros, e alimentam agora projetos outros de produzir os instrumentos com que eliminarão, nalguma dessas madrugadas latino-americanas de filmes jogados fora, a sede do perfeito. Eles, os aventureiros das dores, que desconhecem, passeiam na faixa estreita entre o tempo e a Eternidade, escravos dos dois e da ignorância que os fizeram presas fáceis do destino. Choram. Lamentam. Padecem as dores do próprio parto junto às malhas de solidão inigualável. Ninguém há de ser, igualmente, conhecedor absoluto de toda realidade durante todo tempo, enquanto as lágrimas secam ao sol, por momentos em que as naves já circulam nos céus, raramente avistadas entre nuvens escuras, porquanto, vítimas das ilusões passageiras, ainda que avistassem jamais acreditariam no que vissem, envoltos que estiveram nos segredos do Deus desconhecido.
(Ilustração:A nau dos insensatos, de Hieronymus Bosch).
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