Isso se deu nos idos da Segunda Grande Guerra, em Crato. Era de ter escrito tal história que marcou profundamente os que ali viveram à época. Uma madrugada inesquecível de angústia de que falava minha mãe.
Sei não ainda porque, sempre que me lembro de recomeçar, os episódios das histórias humanas, ali me avisto na Praça Francisco Sá, defronte à Estação Ferroviária, hoje desativada, ora sem os trens. Morei acima, no Bairro Pinto Madeira; na infância e na adolescência pisei por demais o chão daquela praça, nas idas e vindas ao centro da cidade. Pois foi ali que isto se deu.
O que conto revive uma madrugada durante aquela triste guerra. Já transcorriam por volta de cinco anos, de quando a Alemanha invadira a Polônia e dera início à maior das conflagrações armadas até hoje. Chegara, naquela hora, a vez de os atiradores do Tiro de Guerra de Crato ser convocados integrar as tropas expedicionárias brasileiras que lutavam nos campos da Itália. Meu pai era um desses atiradores.
Imaginemos a comoção dos habitantes do rincão interiorano face aos seus jovens na idade militar irem arrastados a tão longe, na guerra que abalava o mundo inteiro, sem perspectivas que fosse de terminar.
A tropa perfilou devidamente orientada pelos superiores. As derradeiras instruções foram dadas. Em seguida, à hora definitiva, marcharam pelas principais ruas escuras da cidade ao troar de tambores e caixas, e clarinadas, em marcha cadente, a revirar toda a alma do lugar. Horas frias. Missão estúpida rumo da morte. Lágrimas em todas as faces; ninguém dormira na noite.
Logo os vagões do trem lotaram de soldados transidos na dor dos corações que iam e dos que ali ficavam. Distanciamento heroico dos pracinhas em horas cratenses. Esse trauma ocorreu, portanto, certa vez.
Ao chegar em Fortaleza, onde navios aguardavam os contingentes, poucos dias depois seriam surpreendidos com os derradeiros telegramas da Europa de que as tropas aliadas ganhavam território e breve obtinham a vitória sobre o totalitarismo do Eixo, alento de paz que dominaria o mundo alguns anos daí desde então.
Posso imaginar o transtorno que foi a convocação destes jovens a participar de uma guerra, sem nenhum treinamento e deixar para trás familiares, sonhos, sem a certeza de que retornaria. A guerra é um evento muito entupido, mas o provérbio diz que para haver paz tem que haver guerra. Um contransenso, :mas é real.
ResponderExcluir