quinta-feira, 28 de junho de 2018

Isso de escrever

Meros sonhos da impaciência dos humanos. Desejos feitos de palhas. Folhas soltas ao vento, quando há o vento por perto. Bom, fome de fazer face ao desalinho, não do Universo, que o sabemos perfeito, mas daqueles que agem assim no dizer quais instrumentos do nada e coisa nenhuma. Contudo insistir no mister de cruzar as horas e voltar com os pensamentos que sumiam na ausência. Ou tomar conta deles, ou dominar de não ter tamanho as influências que exercem incontidas os contadores de casos, artífices de dramas, preocupações, constrangimentos da gente com a gente mesma. 

Lá um dia, no entanto, inventariam de criar, juntar palavras e montar frases. Nos começos, em formas de barro, tabuinhas, tijolos largados nas encostas dos morros dessas ruínas que o povo gosta de visitar nas saídas que dão pelo mundo. Adiante, numas folhas de plantas aquáticas, nas bandas do Egito. Marcar, assinalar de imagens restos de troncos secos e trabalhar os papiros. Até que chineses inventaram o papel e os tipos móveis. Desde então resistem ao silêncio e querem fomentar noutros aqueles pensamentos velhos, aflitos, que sabiam perder no embate entre as ondas e os rochedos inanimados. 

Virou isso de untar letras nessas máquinas sofisticadas e mexer a compreensão das outras criaturas, espécie de vontade petulante e figuras gráficas, as páginas luminosas de chegar aos outros mais distantes. Postulados volumosos enchem, pois, as estantes, bibliotecas inteiras, de volumes encaixotados debaixo de sete capas, livrarias, bancas, lixões, museus e revistas. Largos tetos formam a herança do que disseram as lâminas de escrever. Sonhos, profecias, valores filosóficos, tumultos históricos, memórias impacientes, construções monumentais de lendas de tudo quanto é autor, do zero ao infinito, horas a fio trazidas cá fora, do instinto de contar do desespero e passar o momento, e lembrar-se de guardar o mínimo das relíquias boas de viver e ter consciência disso. Enquanto letras existirem, ali de junto haverá escribas que lutarão aflitos na intenção de preservar o sangue que escorrer nas veias e invadem os pensamentos a escrever.

Um comentário:

  1. Uma das cenas que guardo na memória foi a primeira vez que vi um operador numa gráfica, juntando, manualmente, aquelas letras para formatar um texto. Hoje com a evolução e tecnologia, as gráficas são todas modernas. Mas o que penso mesmo, e você bem retratou, o que seria da história e dos fatos, se não fosse a escrita. Por isso louvo e admiro as pessoas que têm dom da escrita. O que que seria do mundo se não houvessem os registros da história da humanidade. Parabéns pelas suas descobertas, não conhecia este lado dos primórdios da história da escrita. Você é fera, sempre fazendo as suas preciosas descobertas.

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