Ela chegou às margens do açudinho que existe ao lado da casa. Ao vê-la, Huberto observou que trazia ferimento numa das asas. Sozinha, triste, aquietou nas proximidades da água. Daí, ele e Toinho, o caseiro, trataram de lhe oferecer alimento que mitigasse a fome e a fraqueza. Nisso, aos poucos ganhariam a confiança de Marli, que assim a batizara.
Depois permaneceria por perto recebendo o carinho dos alimentos, peixinhos pescados de anzol. Resultado, ela e o novo amigo se afeiçoaram. Contudo alguns meses adiante, Marli sumiria por seis meses, ou mais. Bebeto deduziu que talvez houvesse perdido a vida num outro atentado. No entanto voltaria. Feliz de receber alimentação, demonstrou reconhecer o pouso e o amigo.
Sempre que chamada, agora acorre atenciosa aos peixes fisgados de anzol, pequenas tilápias do reservatório. Basta chamar pelo nome, rápido desce e fica no aguardo da ração.
Assim tem transcorrido. Some dois, três meses, e regressa familiarizada qual amiga fiel. Vimos bem isto acontecer. Mesmo que de todo ausente, tão logo ouve seu nome aparece entre as árvores e fica à espera do alimento, em perfeita simbiose de ser humano e ave pernalta.
As cenas que eu e Flamínio presenciamos naquela tarde, do entrosamento de Huberto Tavares e da garça que buscou refúgio junto dele, fizeram que eu voltasse no tempo e me visse criança a presenciar bandos de garças sobrevoando as represas do açude do Tatu, em Lavras, onde nasci. Considerei o que teria imaginado à época visse o que agora vejo. Por certo desejaria ser, quando crescesse, tal aquele senhor às margens de um açudinho a oferecer peixes a Marli, cercado de árvores e flores, esquecido do mundo, a reviver dias da infância, na paz do sítio aprazível, distante, lá no sopé da Serra do Araripe.
Momentos de paz...
ResponderExcluirDeve ser um momento especial. A natureza é a presença de Deus!
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