quarta-feira, 15 de março de 2017

Presos numa cápsula

Durante bom tempo privávamos de autores de ficção científica em alerta ao que viria adiante. Era mais uma fase literária. O mundo começava a cores de impossibilidades galopantes. Ainda que houvesse boa vontade naquela geração bronzeada, pesavam-nos as decisões de guerras e desmandos desses líderes à toa que preenchem o lugar de chefes de países sem a menor competência. Sustentam apenas o desastre constante das máquinas e ainda pousam de poderosos, a destruir esperanças através do mercado financeiro. Bom, a gente buscava um jeito qualquer de não perder o sono. Eram músicas, livros, praias, amores, bebidas, drogas, vontade de sonhar intensamente.


A televisão e os celulares jamais anunciavam que eles dominariam o pedaço. Mas queimavam por baixo. A cibernética chegava às cavernas e academias, e invadia os chãos das fábricas. Lojas eram menos do que pontos turísticos dos hoje shoppings alienados. No entanto passávamos pelo tempo quais esses filmes de fotografia que transformam idade em velocidade. A aceleração nem de longe imaginávamos fosse tão veloz. 20 séculos em um minuto.

E hoje cá estamos amarrados por cabos metálicos nesta nave esquisita; de capacetes, máscaras de gás, roupas brilhantes de chumbo derretido, sons reluzentes e profecias indiferentes à sobrevivência da Humanidade.

Já festejamos a prisão da velha cápsula que alguns ainda chamam vida humana, olhos acesos em coisa alguma, porém dotados das mesmas artimanhas que montaram o passado das conquistas, dando continuidade à aventura perante o Cosmos. Os incensos continuam sendo acesos nos pés das imagens necessárias e o coração segue batendo na constante dos inícios. Alguns sinais riscam os céus, entretanto poucos e nenhuns sabem de que se tratam os horizontes. Às vezes contam histórias mirabolantes de seres que passaram aqui e deixaram marcados seus rastros nas pedras.

Lado a lado conosco, outros também atravessam o mar de areia das horas em caravanas dolentes. São nuvens e os únicos indícios de que corre o vento e nada parou. De certeza surgirão dias novos e luzes nas trevas que brilharão para sempre. 

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