Diz a tradição popular que quando Jesus andava com os seus apóstolos a pregar nos diversos lugares da Terra, viajando nas cidades e vilas do Oriente, cada apóstolo transportava uma cruz às costas para dar exemplo do sacrifício que aos homens representam as coisas materiais. Provavam desse modo a renúncia dos prazeres físicos. Era aquela caravana de penitentes, a se deslocar sem tréguas pelos montes e vales.
Havia aceitação de todos para seguir o Mestre, firmes a cumprir o longo itinerário da plena felicidade do Reino.
Entre eles, no entanto, de vez em quando, surgia alguém desanimado com aquilo. Atravessavam suas provas e depois refaziam o gosto de prosseguir na peleja. Certa vez, Pedro defrontou-se com um desses períodos de maré baixa. O peso de sua cruz abateu-lhe as energias e pareceu extinguir sua imensa vontade de seguir na missão redentora da Humanidade.
A princípio, conseguiu neutralizou a grave crise. Resistiu calado o quanto pôde às fraquezas, o que se repetiu dias seguidos. O madeiro que nos ombros transportava por fim sujeitou seus sonhos de purificação. Viu-se na condição inapelável de buscar Jesus e lhe contar o drama que administrava no auge desespero.
- Mas Pedro, todos nós despendemos igual esforço, a cada dia, e só tu, meu primeiro apóstolo, me vens apresentar sinais de fraqueza?! – asseverou o Pastor Divino.
- Mestre, as minhas forças... elas não querem mais me atender – insistiu Pedro. – O Senhor, com certeza, pode encontrar alternativa nessa dificuldade, pois sabe que amo Deus e guardo no meu coração o melhor de mim para lhe oferecer. Pelo que observei na estrada, a cruz dos outros parece bem mais manera do que a minha. Se houvesse jeito de poder levar uma delas, creio resolveria o tal problema.
- Bom, pelo que dizes, eis a solução – concluiu Jesus, acrescentando: – Amanhã no raiar do dia, acorde antes dos outros e tens minha autorização de escolher a cruz do menor peso que achar entre todas, e com ela seguirás a jornada.
Desse jeito fez. Ainda com escuro, são Pedro saiu na direção do quarto em que guardaram as cruzes e se pôs a calcular o peso, de uma por uma, até encontrar aquela que achou mais leve, trazendo-a consigo. Seguiram adiante. Passava das nove. O sol começava a sapecar as planícies monótonas da Palestina. Pedro, respirando desafogado graças o fardo suave que trazia às costas, resolveu examinar de perto a cruz que arrastava. Maior surpresa viveria jamais. A cruz que transportara toda a manhã era não outra, porém a mesma dos seus outros dias. Agora saiba, de todas as cruzes daquele grupo a sua era a de menor peso. E sorriu assustado pela fraqueza que demonstrara ao Mestre.
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