Isto de escrever demonstra o quanto existe de poder guardado nos autores, a se revelar na medida em que exercitam essa possibilidade. Dizer ao papel, às telas. Contar detalhes de si. Sobrevoar existências. Palpar os instantes infinitos da douta Eternidade. Sonhar acordado. Tatear as vestes da imaginação. Recordar. Falar sozinho. Partilhar a individualidades. Dizer dos próprios mistérios escondidos debaixo dos lençóis do tempo.
Nos Contos de Ir Embora, do livro recém lançado na Mostra SESC, em Crato, Natercia Rocha externa este talento de transmitir aos demais conteúdos finos da alma no gesto de repassar a gente toda essa potencialidade do ato de escrever.
Em formato pequeno, o livro ganha dimensões existenciais de cunho universal, isto sob o esmero de vocação forte do espírito que aborda tipos humanos trazidos às suas observações e em enredos dignos da apreciação de muitos.
Cheios da exemplar solidão dos introvertidos e bons observadores, Natercia, mergulha na íntimo dos personagens qual clínica especializada em conhecer as entranhas do ser nas várias modalidades dramáticas das circunstâncias que investiga com maestria e eficiência. Mais que redatora, ela filma, pesquisa, esquadrinha nuances emocionais definitivas, em tiradas antológicas aos moldes do conto O Caminho do Meio ou O Meio do Caminho, no parágrafo que segue:
Pai, mãe e Baleia ficaro tão juntinho que parecia uma coisa só. O céu cheio de nuvem carregada e o caminhão sumindo na estrada. Fiquei olhando aquela imagem, com uma coisa me dizendo lá no infinito que era a última vez que eu avistava eles. E era mesmo.
Tão simples e tão bonito, verdadeiro, bem literatura boa.
Há, pois, uma maturidade vicejante nos textos da autora também noutros dos contos, que apreciei com leveza, cheios de saudades, sentimentos, vontades vivas espalhadas nas letras. O Retrato. Os Olhos de Elizabete. Rua Bovary, s/nº. Livro que chegou às minhas mãos através do amigo José Junior Bezerra, vez que eu viajava na ocasião do lançamento, um presente especial.
E aguardo novas produções suas, Natercia, enquanto deixo aqui meus agradecimentos pelo gesto de escrever.
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