segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Os enigmas da subjetividade

Qual seja o que, nada mais, nada menos, ainda ter de ser alguém com as velhas manias e máscaras a todo tempo. São estes milhares de entes que vagam cada momento e somem às primeiras ausências. Altivos, criam a si o quanto de necessário a convencer entre os demais e haver obtido a fisionomia anônima de herói. Noutras palavras, sermos nós, os que percorrem o estreito das visagens e memórias largadas no tempo. Assim, preenchemos de pensamentos, sentimentos e falas o palco envelhecido das visões. Encenam as peças e seus itinerários, à medida que norteiam passos nas estradas do mar desconhecido.

Nisto, havemos de cumprir nossa parte no grande altar dos sacrifícios a que rendemos crença e sustentamos as teses por nós próprios elaboradas. Dotados das mesmas migalhas dos séculos que se perderam pelo ar, escrevemos a história da qual seremos escravos e senhores. Escutamos quietos os partos e o retinir das algemas que, calados, transportamos pelo corredor das lembranças.

Firmamos papeis de sol a sol. Tangemos o rebanho formado de outros eus em movimento. Apreciamos o transcorrer das gerações pelos vastos continentes das horas. Silentes, alimentamos desejos íntimos dos quais jamais abrimos mão até agora. Quantos verbos poder-se-ia enumerar durante o fluir das estações, face a face com o inevitável. No entanto padecemos desse vazio insistente e dos reais motivos de estar neste chão, atores do drama de todas as espécies.

E depois, quando as luzes do final das tardes acobrearem o azul do firmamento, bem nesses instantes esquecemos a determinação dos dias e oramos interrogativos. Calmos, por fim, presenciamos apenas o abandonar das nossas almas ao celeiro infinito da Eternidade.

(Ilustração: Arte egípcia (reprodução).

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