terça-feira, 27 de junho de 2023

O calvário e a matéria


Algumas afirmações ninguém jamais esquece, a exemplo de que ao nascer se inicia o caminho do fim. Nesse meio tempo, flui o itinerário da existência. Só quase poucos levam em conta a realidade disto. Qual lâmina de um rio à busca do oceano, a história significa. São seres, objetos, acontecimentos em constante relacionamento vidas e vidas. Mudam as línguas, os hábitos, os rituais, as construções, situações distintas, vestes, ornamentos, pretensões, todavia em puro sistema de falecimento, desaparecimento inevitável.

O que impressiona por vezes é raros sentirem de perto o procedimento de tudo em convulsão e desgaste, numa espécie de aceitação tácita de quem sabe e faz de conta que... No entanto bem assim tem que ser, porquanto a ciência disto pouca ou nenhuma diferença faz. Quais conspiradores de si, aceitam de bom grado o tal sistema sob o que realiza os sonhos impossíveis.

O que seria apenas o meio de encontrar a resposta torna-se uma farra, uma festa de êxitos passageiros e mordazes. Disso as filosofias desenvolvem seus postulados e alimentam o roteiro silencioso das memórias. As religiões demonstram possibilidades outras que sirvam de lição. Os exércitos aceleram o desfalecimento das massas. Enquanto cresce a população e todos aguardam o instante da solução desse drama.

Ser-se testemunha das ocorrências fortuitas dos esquemas humanos eis a função principal dos habitantes daqui. Olhos fixos nessa escuridão entontecida, porém, representa dar continuidade à raça e desfrutar da fragilidade. Acalmar os ânimos e sorrir, cantar, amar portais da fama em elaboração, que abrem de par em par o espírito e trazem o senso e usufruir da ausência imediata de uma resposta coerente.

Nós, a paisagem, o viajante e a mesma viagem...

(Ilustração: A crucificação, de Brueguel).


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