sábado, 27 de maio de 2023

O misto de Chagas Bezerra


Ali nos idos de 50, quando as estradas de gado aos poucos viraram rodovia, morávamos no Tatu, em Lavras da Mangabeira. A família de minha mãe vivia em Crato, no Sítio Monte Alegre. A fim de visitá-los, meus pais vinham no Misto, um caminhão adaptado com mais duas boleais, que fazia a linha desde Várzea Alegre, passando pelo Triângulo, onde existia o Barracão, que ficava relativamente perto do nosso sítio, aonde se ia a pé ou de animal. Daí, o carro passava no distrito de São Francisco, hoje Quitaiús; na vila do Rosário, hoje Feitosa; e subia a Serra de São Pedro. Passava em São Pedro, hoje Caririaçu; descia a serra do outro lado, até o distrito de Palmeirinha, hoje Vila Padre Cícero; passava em Juazeiro do Norte e chegava em Crato, tudo isto pelas estradas de terra que então havia. Aquele abençoado transporte pertencia a Seu Chagas Bezerra, um empresário que morava em Várzea Alegre. Mais adiante, transformaria sua atividade em uma frota de ônibus, consagrada pelas longas viagens a São Paulo, a Viação Varzealegrense, que persistiria por logo tempo, até a década de 80, 90, através dos filhos.

Seria naquele misto que eu, criança de colo, de seis a sete meses, viria com minha mãe até o Crato, segundo ela me contou, a ser visto pelos seus irmãos; â época meus avós já havia partido.

Aquele caminhão-misto, que fazia a feira do Crato toda semana, às segundas-feiras, fora o primeiro alento de progresso no transporte de pessoas através do Sertão. Vinha logo cedo e regressava aos finais de tarde, lotado de mercadoria e gente, ficando consagrado na história regional do Nordeste, isto durante anos e anos, até que surgissem os primeiros asfaltos e as sopas, essas os primeiros ônibus de carreira que atendiam nesses percursos primitivos.

(Ilustração:(Reprodução: http://cearanobre.blogspot.com/2012/07/senador-pompeu.html).

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