quinta-feira, 28 de abril de 2022

Na jaula dos macacos


Diante dos sucessivos destemperos dessa época de humanidade contrafeita, onde quando menos termina uma guerra já estão usinando ferro a fim de produzir as armas do próximo conflito, necessidade que parece constante nos animais que ainda somos, hoje achei de lembrar uma historizinha zen, bem aos moldes da sabedoria do Oriente.

Um domador tinha sete macacos presos numa jaula, com os quais oferecia quadros no circo da região. Todo dia, chovesse ou fizesse sol, preparava e oferecia de alimento três doses de castanhas a cada um deles. Duas castanhas pela manhã. Uma no meio do dia. E três ao final da tarde. E desse modo transcorreram dias e dias, com os bichos conformados naquela ração diária, acrescida de mais alguns agrados. Lá certa feita, um deles acho de reclamar que daquele jeito faltasse algum detalhe, que precisava mudar o quanto antes o regime dos fornecimentos, que via naquilo algo a ser cuidado doutro modo, etc., etc. Os demais habitantes da gaiola não perderam tempo e seguiram o protesto dos selvagens da prisão.

Foi um movimento feroz naquela jaula de micos. Uma zoeira. Ninguém mais teria paz na casa do proprietário dos antes passivos e conformados símios. Só faltava quebrarem tudo, sem oferecer qualquer alternativa de acordo que fosse.

Pensa que pensa, e o domador resolveu fazer uma pequena alteração no fornecimento das rações diárias dos prisioneiros.

Daí passou a oferecer, invés de duas castanhas pela manhã, três. Não mexeu na refeição do meio-dia, que seguiu de apenas uma. E ao final da tarde, invés de três, ofereceu duas castanhas.

Com aquilo, os macacos, desconfiados, olharam uns pros outros, sorriram satisfeitos, e a paz voltou a reinar no recinto, todos eles entregues aos seus nenhum afazeres, se coçando e dormindo contentes os dias todos.

Resta imaginar aonde se parece essa história nos acordos coletivos dessa hora pelo mundo inteiro.

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