quinta-feira, 2 de setembro de 2021

A história não se repete



Esses caçadores de ilusão que o somos vivem disso, de imaginar perenidade no tempo que passa e alimentar a fantasia de que tudo será qual ontem foi. Isso, no entanto, os deuses da história nem de longe querem sustentar, sob pena de quebrar o senso da espontaneidade que de longe a tudo devora todo instante. Enquanto o presente significa rio entre dois fogos, o passado e o futuro, a história, por sua vez, representa o espelho no qual a humanidade reflete a imagem dos séculos, muitos deles até perdidos na imensidão do abismo das inexistências.

A velocidade com que a vida disfarça o tempo em movimento, tal vela acesa que alumia e nunca retornará, marcam as criaturas a angústia do inevitável das abstrações que o vento arrasta pelos céus. A isto negam razão de ser e mergulham nas trevas do que teria sido. Fogem de si quais vítimas da própria incoerência. E resistem ao desespero formando trincheiras imaginárias, desenhando visões do paraíso nos prazeres e objetos, escondendo da alma um desejo constante de humana salvação.

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Durante o itinerário dessa busca, estabelecem os padrões, as religiões, as ciências. Criam códigos distribuídos pelos grupos. Nisso, perscrutam as dúvidas que a razão cria, na velocidade das horas. Sustentam os haveres das alucinações. Sabem que seriam eles os autores das revelações, todavia. Cavam o solo da solidão onde imperam. Estabelecem as lutas da sobrevivência até sem nelas acreditar, bandos alucinados de zumbis nas noites escuras.

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Lá um dia, então, deparam com o princípio da Consciência maior e refazem o percurso donde vieram. Abrem os braços aos segredos da promissão que carregaram consigo durante infinitos, e adormecem no alvorecer da iluminação de Si mesmos. Bem isto o repicar da História mãe, nos carinhos das maravilhas em que vivemos o despertar da Eternidade.

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