quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Cariri, anos 60 e 70


Em dias recentes, encontrei o cantor e compositor Abidoral Jamacaru, numa das ruas de Crato, e relembramos os acontecidos das décadas de 60 e 70, fase de movimentos político-sociais significativos também no Cariri. Ele trouxe de volta alguns nomes dos que, à época, desenvolveram primeiros haustos de uma cultura de vanguarda entre nós. Daí me veio essa intenção de trazer alguns desses personagens que agitaram nosso mundo daquela hora, inclusive com repercussão nas gerações posteriores, nas artes plásticas, na música, no cinema, na literatura, no jornalismo, no rádio. Acho dever daqueles que viveram aqueles tempos tão sombrios e de tanta resistência que mantenham viva a memória de época tão marcante da História.

Por isso, relembro aqui alguns desses nomes valiosos, que integraram a contracultura caririense em fase nebulosa no mundo inteiro, tempos das revoltas estudantis na Europa, em países da Cortina de Ferro, nos Estados Unidos. Atravessávamos a Guerra do Vietnam e suas repercussões na história da Humanidade desde então. Crescia a música de protesto no Brasil; avançava o rock na cultura de massa; se instalava, no seio da juventude, o Festival de Woodstock; o movimento hippie; chegavam os primeiros filmes de diretor; o Cinema Novo emergia pelo País; a censura dominava os festivais da canção, naquela hora crítica; e sobretudo em Crato ocorreram montagens de peças teatrais, editamos jornais alternativos, formamos grêmios estudantis, vieram as primeiras manifestações de novas composições musicais, além das exposições de artes plásticas.

Dentre os que vêm à memória, posso citar Tiago e Flamínio Araripe, Assis Lima, José Esmeraldo, Fernando Lins, Alzir Oliveira, Antônio Vicelmo, Pedro Antônio,  Huberto Tavares (Bebeto), Rosemberg Cariry, Jefferson Junior, Célia Teles, Jackson Bola Bantim, o Grupo Baiano de Teatro (José Luiz e Túlio Penna, Claúdio Dortas, Paulinho Costa) trazido pelo secretário de cultura Hélder França, todos esses movimentos depois sequenciados, já na década de 70, pelos Salões de Maio e de Outubro, e pelos festivais regionais da canção, com alguns nomes também ali destacados, quais Abidoral Jamacaru, Geraldo Urano, Luiz Karimai, Carlos Rafael, Gilberto Morimitsu, Stênio Diniz, Luiz Carlos Salatiel, Magébrio e Marigério Lucena, dentre outros mais que marcariam profundamente as gerações posteriores.

Foram vivências da mais rara intensidade, exemplo de preservação da cultura popular regional e das tradições desta região de larga influência no cenário cultural nordestino. Guardo, pois, com imenso carinho e saudade extremada as lembranças daquele cenário de que participei ao lado de tantos valores determinantes e inesquecíveis da nossa lide cultural.

(Ilustração: Dona Ciça do Barro Cru).

Um comentário:

  1. Emerson querido, belas lembranças. Nessa época já tínhamos descoberto e valorizávamos os artistas populares como Dona Ciça do Cru e muitos outros. Fomos uma geração privilegiada por ter tido olhar pra tantas riquezas cultural da nossa região.
    Ainda temos que escrever esse livro pra registrar esse belo tempo histórico.

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