domingo, 25 de setembro de 2016

O jogador

O cassino transcendia mistura esquisita de fumo e álcool envolto na densa atmosfera das expectativas diante do esforço dos parceiros que disputavam partidas sucessivas. Ora o estalar das cartas novas dos baralhos substituídos costurava de ritmo o som de partidas desfeitas. Ora o tilintar de plástico das fichas, que vinham incólumes aos compradores da ilusão. Dados rolados, chocados nos cantos dos tabuleiros, identificavam jogos feitos e o movimento das mesas postas.

Passadas foram inúmeras disputas de sorte favorável, e ele sempre a recolher as dezenas de vitórias em pilhas antepostas à sua frente. Nos demais componentes das cartadas, olhos faiscantes de possibilidades inúteis, porquanto havia tendência caprichosa que a um tão só arrecadar os palpites bem resolvidos. Ele, apenas, a somar nvos pontos das vezes sem conta.

Já macerados de tanta derrota, os concorrentes reviravam bolsos à cata dos derradeiros cruzados. 

- Bom, quem ganhou ganhou... Pois espero três horas ainda que a fortuna lhes beneficie – gritou o agraciado da noite. – Quem quiser que arrisque intenção nas casas abertas. Espero distribuir de novo as benesses desse dia. Ou, senão, ao menos uma parte da feira.

Jogos montados, fichas superpostas em largos lances e outras vezes a sorte sorria venturosa ao sujeito escolhido nas vezes anteriores. Ele mais que ligeiro cumpriria o prometido. Três horas logo fugiram das mãos dos ansiosos aventureiros, quais obedecessem a ordens ingratas das outras ocasiões.

Ele, a sorrir de satisfação, ao momento exato dos ponteiros, ergueu o corpanzil do velho estofado, aquecido nas horas de sucesso, e recolheu duma braçada o fruto daquela jornada.

Passaria no caixa na intenção de trocar fichas coloridas pelo vil metal. Nisso, divisou ao lado, de blusão azul e cabelos ondulados, o personagem saído das Escrituras Sagradas, que lhe segredou aos ouvidos:

- Vai, vende tudo que tem, dá aos pobres e me segue...

Justo a única moeda que dançava da palma da mão aos dedos lembrava a si o metrô que pegaria no regresso de casa. E o macio agradável do braço amigo o envolveu nos ombros e dali ambos saíram alegres no rastro das estrelas matutinas.  

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