domingo, 13 de abril de 2014

As águas do Castanhão

Quando chove no Cariri, encharcando o solo e reverdecendo a vegetação, se considera o início do abastecimento do maior reservatório cearense, o Açude Castanhão, denominado em decreto do Senado Federal de açude Padre Cícero, aonde escorrem as águas que descem da Chapada do Araripe, dentre outras, bacia do rio Jaguaribe após receber o Salgado, no município de Icó.

Nas quadras de boas precipitações esse aspecto histórico lembra outra relação do Cariri com o mesmo reservatório. É que na área hoje de seu perímetro se verificou a execução de um valoroso caririense, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, herói emérito da Confederação do Equador.

No ano de 1824, a 02 de fevereiro, junto com Pereira Filgueiras, Tristão reabilitava em Fortaleza a junta governativa da qual Filgueiras era o presidente e ele o comandante de armas, que instalada mediante a deposição do presidente Costa Barros.

Emissários haviam sido despachados a outras províncias, na busca de adesões, o que não se concretizaria. A repressão dominava o movimento em Pernambuco, onde ocorreram fuzilamentos, prisões e debandada. Lord Cochrane redera José Félix de Azevedo e Sá, substituto de Tristão Araripe em Fortaleza, quando este viajara até Aracati para combater monarquistas resistentes. Nesse meio tempo, Pereira Filgueiras depusera as armas em Crato, e José Martiniano fora preso no interior pernambucano.

Sem alternativa de prosseguir a luta, Tristão Araripe fugia pelo vale do Jaguaribe, quando, dia 31 de outubro daquele ano de 1824, perseguido pelas tropas adversárias, seria baleado pelas costas no lugar Santa Rosa, agora município de Jaguaribara, vítima de um cerco feroz. Seu corpo, mutilado pela sanha do inimigo, permaneceu alguns dias exposto às intempéries, no mais completo abandono, nessa tórrida região, jogado sobre moitas de jurema e unha de gato, vegetação típica do lugar, para depois ser sepultado numa capela das proximidades.

Ao centenário dessa efeméride, por iniciativa do Instituto Histórico do Ceará, se erigiram monumento de tijolo e cal no lugar da execução do bravo caririense, acrescido este de cruzeiro e placa metálicos, alusivos à data fatídica. 

Sabedores, pois, da inundação da área pelas águas do açude, membros do Instituto Cultural do Cariri, no ano de 2002, formaram caravana indo até o citado local e de lá trouxeram ao Crato a placa e o cruzeiro que compunham a homenagem. As autoridades do município de Jaguaribara, sabedoras da iniciativa, reclamaram a posse das tais relíquias históricas e buscaram-nas de volta dentre breve tempo, comprometidas, no entanto, de construir, sob a permissão do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, órgão que administra o reservatório, um monumento flutuante na intenção de lembrar o revolucionário. 

Antes da devolução, Manoel Patrício de Aquino, à época o presidente do ICC, providenciaria cópia da placa em tamanho idêntica à original, fundida em duro alumínio, a ser exposta na praça Filemon Teles, defronte ao Parque de Exposições, onde fica a sede do órgão, em Crato. 

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