quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Os vórtices da paixão humana

E quando o tempo fecha, vinda de dentro do coração a força descomunal dos rios cheios de arrancar as pedras, arrebentar e destruir, apertar o tórax a ponto de prender a respiração, faz nascerem os surtos maravilhosos dos planos imaginários do que se chamar paixão. Sem lugar de repouso, ímpetos de querer fugir lá para longe como objeto do desejo, e esquecer, no passado, as belas construções e a família, jogar fora os valores alimentados anos a fio, essa fome do impossível trava a boca do estômago, pedido surdo de espaço no território inexplorado das ilusões, os vórtices de paixões jamais experimentadas, que já invadem com farra a paz dos inocentes. Nisso a vontade incontida do sonho ciranda acelerada, de revirar o mundo e reconstruir as intenções pela vida afora, junto de quem chegou o momento fantástico da mudança.

Saber que possui os direitos da razão, eis missão das mais ingratas. Ninguém anda nos campos do coração, nem o próprio dono, livre de machucar, vez ou outra, os frágeis pés. Ali, aqui, sopram os ventos da ansiada liberdade recém adquirida nos bancos da Natureza. Dominar, no entanto, significa talento de sabedoria, inteligência maior de personalidade, gosto do equilíbrio em andar maneiro longe das destruições arriscadas da fria irresponsabilidade.


Contudo, ainda saíram até aqui só poucos professores neste assunto, formados na escola da experiência. Alguns poetas e romancistas trabalharam o tema, porém chegaram pouco no transmitir da certeza de controlar as batidas dos corações apaixonados. O cancioneiro popular talvez olhasse mais próximo, com suas modinhas doridas, marcas rumorosas das primas e dos bordões, a vibrar as madrugadas insones das curvas idolatradas do ser amado.

Bom, em matéria de sentimentos incontidos nas quatro linhas da razão restam fora de propósito quaisquer cogitações asseguradas na luz da consciência pura. Vira de lado, corre agitado, abandona o lar, o desespero parece querer tomar conta dos protagonistas presos nas garras de aço da paixão. Eis matéria viva das contradições humanas, circunscritas ao calendário das idades. Vem silenciosa, rasga o teto da tranquilidade na história pessoal e despeja os tonéis de tempestade no peito dos solidários boêmios da esperança e parceiros iluminados.

Houvesse justificativas nas tantas circunstâncias do inesperado, poucos achariam as jóias de explicar a dor da paixão nos pobres corações humanos. Respeitar, no entanto, a febre da paixão de todos cabe descobrir qual jeito de poder mora no íntimo do amor de cada ser.

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