quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Bom tempo

Isso de achar que o cinza virou a cor dos dias, na era cósmica do momento, cabe, sobretudo, desconsiderar a tanto quaisquer possibilidades. Falam no seu canto os pássaros que sobraram, depois dos extermínios oficiais de agrotóxicos. É só deixar ouvidos bem abertos e escutar o trinado afetuoso enchendo as quebradas. Nada perdido, então. Há flores abandonadas pelos caminhos. Crianças sorriem do velho modo desdentado de milênios antigos. Deixe, não, que um pessimismo apressado faça morada no seu coração. Deixe, não, dê seu jeito. Há surpresas mil aguardando a todo instante, surpresa boa. Ainda que pesem os ponteiros do relógio nas torres das catedrais, ao subir o turno das onze horas, descem mais leves passado o pino do meio dia, a mergulhar nas tardes sertanejas rumo da Ave Maria, o cair das noites brandas. Que quero dizer com o que disse: Um só destino orienta tudo, a certeza dos depois venturosos. Salvação religiosa gigantesca aguarde de braços abertos a comitiva dos seres valentes, experimentadores de pratos típicos. Intrépidos, arrojados, inovadores, acompanham o andar das carruagens matemáticas de ferro, de olhos esbugalhados de sono, após gastos astronômicos com filmes de guerra nos vídeos da madrugada.

Constar dos números da civilização significa aceitar de bom grado, com graça e beleza, os equívocos dos chefes que gastam o material apurado nos impostos, ao sabor dos humores e negócios. Gente interessada em si. Quase ninguém levanta a cabeça para os que foram ao chão. Andam soltos, acelerados, aprendizes na guerra dos botões das feiras. Motoristas imprudentes das latas coloridas.

Mas sacudir a poeira das estrelas e ganhar o prêmio das virtudes servirá de repouso aos guerreiros das eras, nós, bichos de viveiros, habitantes das cidades geométricas impacientes. Nós, sobreviventes dos laços armados nas esquinas e abertos nas praças, animais petulantes, suadores e cheios de vozes animadas, torcedores dos estádios e sujeitos de direitos e obrigações.

Isso de achar que o cinza virou a cor dos dias, na era cósmica do momento, cabe, sobretudo, desconsiderar a tanto qualquer possibilidade. As canções insistem no desejo de sonhar novos sonhos, alimentar outros universos, amar de verdade, viver além de sobreviver. Some, pois, junto das gentes alegres, esperançosas, felizes. A saúde impera quando o sentimento determina valores abertos e livres, estações de cores várias, amizade, possibilidades renovadas. Bondade exige disposição para construir o cenário da transformação, tarefa individual e responsabilidade intransferível.

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