domingo, 27 de abril de 2025

Visões do inexistente


Chegar ao teto dos pensamentos, colher imagens, as transformar em ideias e, logo a seguir, nas palavras. Há pouco, nem existiam, e somem depois, daí o jeito de jogá-las na tela em branco. São fagulhas tiradas do Tempo, feitas de possibilidades, nesse labirinto informe das concretudes aparentes. Desejos vagos de multiplicar em tópicos o que sumiria, e de lá montar significados, no instinto de tocar adiante a vontade de subverter o desaparecimento na correnteza desse rio inevitável... E não só pensar, resgatar isso do silêncio, no entanto sonho a ser realizado até o encontro da herança de que seremos, então, os instrumentos.

Nesse tal jogo de claro-escuro das horas, vemo-nos parceiros do mistério em que tudo resume as existências. Desde que ouvidas de dentro do instante, as palavras seriam pedaços da gente a se espalhar pelo espaço, ritmo constante da imaginação.

Depois, vêm as músicas, cálculos imediatos no território de onde nasce o som ao compasso dos ritmos e das sequências de harmonias refeitas ao sabor da inspiração. Enquanto isto, aqui alguém que escuta, interpreta e transmite, palavras doutros códigos, a tocar o sentimento por meio das atitudes humanas. Nisso também resultam as formas e cores, nas artes plásticas, a contar tantas histórias refeitas ao fulgor da claridade.

Noutras compreensões, a Natureza fala sempre de um desejo incontido de tocar objetos e criaturas, donde os pássaros, o vento, a chuva, o Sol, a Lua, as estrelas, no fluir das horas em forma de relacionamentos e narrativas, linguagem perene, perfeita. Reunir, portanto, inspirações, lembranças, descrições, daí o fulgor estonteante do quanto existe nas inscrições vivas de que somos feitos.

Antes disso, seremos entes simbólicos, viventes da fronteira que fica lá nos céus da Consciência, minúsculos seres dotados de ânsias e sacrifícios à busca de compreender a si próprios diante do Infinito.

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