Qual seja o que, nada mais, nada menos, ainda ter de ser
alguém com as velhas manias e máscaras a todo tempo. São estes milhares de
entes que vagam cada momento e somem às primeiras ausências. Altivos, criam a si o quanto de necessário a convencer entre os demais e haver
obtido a fisionomia anônima de herói. Noutras palavras, sermos nós, os que
percorrem o estreito das visagens e memórias largadas no tempo. Assim,
preenchemos de pensamentos, sentimentos e falas o palco envelhecido das visões.
Encenam as peças e seus itinerários, à medida que norteiam passos nas estradas
do mar desconhecido.
Nisto, havemos de cumprir nossa parte no grande altar dos
sacrifícios a que rendemos crença e sustentamos as teses por nós próprios
elaboradas. Dotados das mesmas migalhas dos séculos que se perderam pelo ar,
escrevemos a história da qual seremos escravos e senhores. Escutamos quietos os
partos e o retinir das algemas que, calados, transportamos pelo corredor das
lembranças.
Firmamos papeis de sol a sol. Tangemos o rebanho formado de
outros eus em movimento. Apreciamos o transcorrer das gerações pelos vastos
continentes das horas. Silentes, alimentamos desejos íntimos dos quais jamais
abrimos mão até agora. Quantos verbos poder-se-ia enumerar durante o fluir das
estações, face a face com o inevitável. No entanto padecemos desse vazio
insistente e dos reais motivos de estar neste chão, atores do drama de todas as
espécies.
E depois, quando as luzes do final das tardes acobrearem o
azul do firmamento, bem nesses instantes esquecemos a determinação dos dias e
oramos interrogativos. Calmos, por fim, presenciamos apenas o abandonar das
nossas almas ao celeiro infinito da Eternidade.
(Ilustração: Arte egípcia (reprodução).
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