Por mais quiséssemos, ninguém conheceria ninguém a ponto de
andar nos seus desertos interiores e abraçar os seus sonhos. Quais meras
cápsulas de razões ainda desconhecidas, pisamos o solo da própria fama e degustamos
o próprio desconhecido que permanecerá conosco. Passo ante passo, cruzamos as
horas ou mergulhamos as crostas do Infinito, certos de certezas que carecem de
maiores esclarecimentos, no entanto. Somos isto, fragmentos de um grande todo ainda
ignorado que nos sustenta e segue abismando nossa escuridão. Olhos fixos quiçá
em oásis distantes, tocamos adiante o rebanho de nossas almas em doces
amarguras ou esperanças vivas. Fôssemos alimentar versões diversas e entraríamos
nas florestas submersas dos desaparecimentos.
À medida em que aceitamos, pois, tais limites do instransponível
entre as pessoas, tornámo-nos repasto de ilusões trazidas doutros pagos.
Firmamos a compreensão de que existem normas neste universo. Perlustramos as
canções de tantos autores que nos embalam as noites. Formoseamos conceitos
repetitivos que fazem de nós instrumentos de todo instante. Sustentamos a barca
do Destino em nossos braços, presos às quimeras do passado ou às ânsias do
futuro.
Por isto, as desencontradas variações de vermos conhecidos
que somem aos primeiros claros da madrugada. São nossos velhos companheiros de
perdidas jornadas e doutras ocasiões. Sabem de nós do mesmo tanto, ou menos, do
que deles o sabemos. Viventes das praças da cidade, de uma hora a outra
tornamos a vê-los talvez quão assustados de nos ver quanto. Mesmo que tal, o
furor dessa tempestade do firmamento em constante ebulição percorre nossas veias
e desvendam os segredos escondidos na copa dos antigos mistérios.
E andamos nestes sonhos, vultos de largos tempos que se
sucedem à medida em que ouvimos o silêncio das alturas sussurrando dentro do
coração. Abrimos portas pouco a pouco e certa vez de tudo nascerá ao que seja
existir; substituir papéis antes imaginários pelos trajes definitivos da
permanência aonde quer que seja de uma verdade para sempre.
(Ilustração: Trem na Índia (reprodução).
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