sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Do lado de lá


Por mais quiséssemos, ninguém conheceria ninguém a ponto de andar nos seus desertos interiores e abraçar os seus sonhos. Quais meras cápsulas de razões ainda desconhecidas, pisamos o solo da própria fama e degustamos o próprio desconhecido que permanecerá conosco. Passo ante passo, cruzamos as horas ou mergulhamos as crostas do Infinito, certos de certezas que carecem de maiores esclarecimentos, no entanto. Somos isto, fragmentos de um grande todo ainda ignorado que nos sustenta e segue abismando nossa escuridão. Olhos fixos quiçá em oásis distantes, tocamos adiante o rebanho de nossas almas em doces amarguras ou esperanças vivas. Fôssemos alimentar versões diversas e entraríamos nas florestas submersas dos desaparecimentos.

À medida em que aceitamos, pois, tais limites do instransponível entre as pessoas, tornámo-nos repasto de ilusões trazidas doutros pagos. Firmamos a compreensão de que existem normas neste universo. Perlustramos as canções de tantos autores que nos embalam as noites. Formoseamos conceitos repetitivos que fazem de nós instrumentos de todo instante. Sustentamos a barca do Destino em nossos braços, presos às quimeras do passado ou às ânsias do futuro.

Por isto, as desencontradas variações de vermos conhecidos que somem aos primeiros claros da madrugada. São nossos velhos companheiros de perdidas jornadas e doutras ocasiões. Sabem de nós do mesmo tanto, ou menos, do que deles o sabemos. Viventes das praças da cidade, de uma hora a outra tornamos a vê-los talvez quão assustados de nos ver quanto. Mesmo que tal, o furor dessa tempestade do firmamento em constante ebulição percorre nossas veias e desvendam os segredos escondidos na copa dos antigos mistérios.

E andamos nestes sonhos, vultos de largos tempos que se sucedem à medida em que ouvimos o silêncio das alturas sussurrando dentro do coração. Abrimos portas pouco a pouco e certa vez de tudo nascerá ao que seja existir; substituir papéis antes imaginários pelos trajes definitivos da permanência aonde quer que seja de uma verdade para sempre.  

(Ilustração: Trem na Índia (reprodução).

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