quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

As cavernas da memória


Ninguém abandona às próprias jornadas esses pensamentos aparentemente adormecidos. Ali neles persiste um brilho intenso de querer habitar de vez a existência. São detalhes individuais que vieram de um a outro, nessa aventura de todo vivente. Nós humanos seremos isto, artesões das cores e formas nas telas na casa de depois. Pródigos retirantes do sertão da Consciência, desenham nas paredes de dentro seres estranhos por vezes libertos e avançam no escuro da solidão até desaparecer na distância. Quiséssemos, porém, construir reinos da Paz, vencer-se-ia desertos assustadores de desejos e acalmaríamos o egoísmo. Abandonaríamos o que, um dia, sustentou as cercas da ilusão. A esse dia, vamos em busca do Sol que ilumina a noite dos milênios incalculáveis...

Nisto, pequeninos seres fervilham o solo do Tempo. Constituem famílias. Representam em si mesmos a fome incontida de sobreviver. Andam sozinhos, de máscaras mil que circulam entre as dobras desse filme intermitente, numa demonstração de que tudo há de prosseguir. Independente dos conceitos do inevitável, tantos falam. Seremos nós aqueles que um dia buscaram as fórmulas mágicas dos sonhos. Largamos nas pedras o passar da vontade estreita, afoita e pretenciosa.

Nesse vai-e-vem da sorte pelas estradas, deparamos contingentes inteiros de outras batalhas que nunca cessaram. E andam pelos meus corredores da alma, sórdidos objetos de paixões e desenganos. Contudo menestréis doutras histórias ao além submetidas, na lei das recordações. Foram paisagens inesquecíveis, manhãs iluminadas, momentos felizes desfeitos pelas garras insanas das outras feras. Enfim, ímpetos de viver que alimentaram o amor em todos os destinos.

(Ilustração: Crato antigo).

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