sexta-feira, 31 de março de 2023

As profecias da Arte


De tantos séculos e milênios que existe a intenção de revelar os cravos fixos dos destinos. Nenhuma geração aceita essa pura conformação de receber o futuro sem antes nisso cogitar do que viesse, de onde viesse, aonde fosse. São eles os videntes, artistas de plantão nas mais diferentes formas e estilos de produzir a arte pela arte. Dizer da intenção que vive agônica debaixo do mistério dessas nuvens que passam eternamente. Contar um mínimo que seja da disposição das peças do que virá, transpostos nos rochedos e ruínas, impérios e dramas. Enquanto que, envoltos na fuligem das espécies, surgem esses encapuzados seres a contar dos enredos e das horas, antecipados nas cavernas, nos paredões dos metrôs, nas portas do firmamento. Contar, contar, acima de tudo. Escrever, compor, construir, alimentar as imaginações dessa noite informe de gerações assustadas consigo mesmas.

Vêm disso as instituições artísticas, os versos, as litanias, os blocos que vagam pelas páginas do Tempo. Servem de respaldo a que alguém, nalgum momento, refaça as trilhas do passado e leia no código das vidas sob o manto sagrado da visão dos tais profetas vadios, estrangeiros sem pátria.

No qual esforço de contar de si o credo das dores que cruzam querendo descrever das sombras esse futuro; os artistas, que perseguem o vagão dos desvalidos e deixam margem doutras interpretações da alma; quedam-se ao sabor de angústias, aflições e desvarios. Saem assim à busca do desejo em toques de harmonia, cores, ritmos, formas, amores, sempre alimentados pela sede do infinito humano.

Esses famélicos autores dos credos e profecias quedar-se-ão desfalecidos no palco das tradições, das luas ensolaradas, epopeias e lendas, eles os mártires do imaginário que agora deslizam suave no campo da criação. De certeza já possuem um pouso definitivo herdado nas paisagens do Paraíso, lá de onde jamais haviam de ter vindo, senão nesta atitude missionária dos verdadeiros filhos da Arte, uma pureza bem forte dos corações em festas.

(Ilustração: Paisagem de Itapoan, de José Pancetti).

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