quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Divagações



Isso de escrever tem lá seus mistérios. Num deles, a gente fica discriminando o que dizer, deixando de lado até as movimentações ordinárias e buscando entrar noutras dimensões. Fico, assim, procurando romper essa barreira insistente de conter o que dizer, quando ao fazê-lo algo se desprende por dentro e sinto alguma satisfação em dividir com uns poucos leitores aquilo que nasce da mania de contar o que aqui no íntimo movimenta uma série de pensamentos e palavras cruzando entre eles. Depois dos computadores ficou menos ronceiro escrever. Venho da uma geração que acompanhava os grandes cronistas da hora, lá do Rio de Janeiro, mestres da máquina de escrever, Paulo Mendes Campos, Raquel de Queiroz, Stanislaw Ponte Preta, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, e tantos e tantos de quatro costados, atração de jornais e revistas. Quando hoje lembro, eles simplesmente contavam pedaços do dia-a-dia carioca a preços módicos e alegravam com aquilo a vida do País inteiro.

Fiquei meio sustentado nesse gosto de esquecer naquele prazer de ler esses escribas, o que praticamente sumiu das vidas nacionais. Em mim isso logo adiante me faria gostar dos contistas, dos romancistas, daqui e doutros países, mergulho que o tempo me levaria a conhecer nomes inesquecíveis de grandes autores, cujas produções me alimentam até agora, no afã de satisfação como poucas das minhas atividades. Na sequência, descobriria as filosofias, a poesia, a psicologia, a religião, filões inesgotáveis de tantas maravilhas das existências pelo mundo afora.

Quando sei de nações imperialistas devoradoras que avançam sobre os países menos poderosos à procura das riquezas do petróleo, novos mercados para as armas que produzem, além de consumidores para suas cacarias e outras doenças da ilusão, reajo com furor ao tanto de prejuízo que causam à cultura inteira dos povos, das tradições, da música, literatura, danças, histórias, tudo na pura imbecilidade da destruição fortuita, inútil. Claro que pergunto a mim mesmo, onde erramos das quantas farsas de ser os mesmos e perigosos animais dos inícios desta sofrida Civilização. Ainda que seja tal, segundo os cálculos que de tudo fazer, apenas três por cento da história e da cultura humanas ficam registrados no transcorrer dos milênios, e desse modo segue tosca a Humanidade...

Um comentário:

  1. "Fico, assim, procurando romper essa barreira insistente de conter o que dizer, quando ao fazê-lo algo se desprende por dentro e sinto alguma satisfação em dividir com uns poucos leitores aquilo que nasce da mania de contar o que aqui no íntimo movimenta uma série de pensamentos e palavras cruzando entre eles." 👏👏👏🙏🙏🙏🌷🌷

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