quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Seres humanos


Uma barca de lembranças no rio do esquecimento, assim poder-se-á resumir a quantas isso que chamam viver. Prudentes, às vezes; levados, noutras, seguem tangendo o rebanho das personalidades no estoque da solidão individual, quem sabe até dividida, no entanto restrita ao cofre do anonimato de cada ser. A tal busca de uma explicação do por que de andar aqui nesse fio de meada das interrogações justifica por demais o senso das virtudes. Alguns até aquietam o facho e aperfeiçoam o silêncio, evitando dizer aquilo que pouco ou de nada ainda sabem. Contudo há que se ter uma resposta mesmo que provisória disso, desse discurso abismal do tempo.

Ninguém que preze o senso prolonga as ausências constantes que somem tempo adentro, face a face com o desconhecido. Espécie de saudade crônica do momento presente, vê-se todas folhas das árvores dos dias caírem secas aos nossos pés e temos quase nenhuma participação no sentimento que restou.

Outro dia, ao manusear uns discos de décadas atrás, me veio esta sensação esquisita de que na verdade somos essa transformação cortante de nós em nós próprios, o que, por mais desejemos, jamais se conseguirá conter nessa fome avassaladora dos desertos que ficaram lá atrás no crivo dos acontecimentos.

Nisto, na medida em que fluem os sóis pelo Infinito, bem ali nos vemos tais testemunhas efetivas de todo o momento que nunca passa e insiste em permanecer nas almas das criaturas que nos é dado serem. Defensores ferrenhos de pontos de vistas, nem de longe sustentamos o esteio da razão definitiva de tudo. Peças de descomunal quebra-cabeça, juntamos os detritos de todos em um único ente parceiro da Criação, de comum sem saber porquanto receber tamanha responsabilidade. Olhos postos no sonho, vivemos ao sabor de mil fatores, enquanto isto ter que domar a fera em que vestimos as primeiras peles, já agora às vistas do dia de brilhar nossa luz.

 

Um comentário:

  1. Uma barca de lembranças no rio do esquecimento, assim poder-se-á resumir a quantas isso que chamam viver. Prudentes, às vezes; levados, noutras, seguem tangendo o rebanho das personalidades no crivo de uma solidão individual..." isso mesmo. Perfeita abordagem sobre o curso que nossa vida segue, independente da nossa da nossa vontade. Nossa vida será sempre assim um quebra cabeça que levamos toda uma vida tentando encaixar as peças . Parabéns . 🌷🌟💫

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