Um meio de voltar no tempo que permite lá muitas formas, as
quais inesperadas e pessoais, que anima blocos internos da gente a ponto de
trazer de novo os conteúdos arcaicos da alma e reconstituir fragmentos de
histórias inteiras. Nisso a virtude da literatura e dos que afirmam suas
versões de gestos e acontecimentos que ficaram aparentemente perdidos na poeira
do passado, porquanto, ainda permanecem restritos pelos arquivos pessoais e
intransferíveis, a ser então aquilo de que
contam suas histórias.
Neste período que estou sinto, pois, bem isto, ao passar
alguns dias na Bahia e presenciar cenas insistentes do que, no passado,
vivenciei no estoque dos sentimentos, pois ali a memória e o coração andam
juntos. Foram naqueles oito anos, quando aqui morei, na década de 70, época
inesquecível que, para minha surpresa, permanece grudada nas paredes da
lembrança de quem veio sem conhecer o lugar e quase ninguém.
Daí, em ondas gigantes que me invadem as trilhas dos
pensamentos e se superpõem numa cadência a bem dizer constante, vejo repassarem
as mesmas memórias que trouxera do Ceará, desde a infância no Tatu, aos idos da
adolescência e início da idade adulta em Crato, aos quatro anos que trabalhei
em Brejo Santo, tudo vindo sucessivamente intacto. A preencher o espaço deste
momento, revejo por dentro as saudades que vieram comigo naquela época. As
festas, os passeios, as experiências de colégio, de jornal, de rádio, das
praças, dos turnos de estrada a ir e vir nas viagens, os amigos, as pessoas da
cidade, o comércio, filmes, namoros, livros que lera, revistas, os jogos de
futebol, as decepções e os sucessos, as músicas, num turbilhão de vivências que
ora permanecem guardadas nos refolhos de mim, chamas que nunca apagaram.
Certa feita, ouvi que foram captadas, na costa do Oceano
Pacífico, imagens de uma emissão de televisão de mais de três anos, em cenas
diversas que, tais nuvens vadias, chegaram a um equipamento, deixando margem a
considerar que essas emissões eletrônicas ficam soltas no ar, sujeitas a se repetir
aleatoriamente. Isto hoje sinto nessas memórias que retomam os meus instantes
de lembranças sem mais nem menos, espécies de seres que sumiram e que vivos
permanecem nalgum lugar das entranhas do tempo. Ao sentir o clima da Bahia,
nestas horas, os céus, os sons imaginários, qual chamasse de volta resquícios de
outro mundo esquecido, o coração mexe por dentro e reconstitui este eu que sou
e o eu que antes lembrava do que havia sido, sistema de formas, cores e luzes
entranhadas num sempre agora que lhe seja eterno.
O que você relata é assim. De repente nos damos conta e paramos a olhar no retrovisor do tempo onde criamos e trazemos conosco as nossas lembranças, nossos sonhos, o realizamos, o que ficou permaneceu apenas nos sonhos. São lembranças que ficaram no decorrer d nossa vida e lá permanecem. 🌟💫
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