segunda-feira, 15 de agosto de 2022

O rio do coração


Lá estão eles dois, razão e coração, à margem do Tempo. Olham em volta e querem a todo custo dominar os entes que nós somos. Invadem as propriedades deste ser e movimentam o barco das existências, a formar ondas gigantes de emoções e raciocínios, na mesma velocidade com que acontecem os sóis na areias do deserto da razão, do coração e de nós mesmos, Aventureiros desse território que tem de passar sem dúvidas, desfazer o calendário em mil fragmentos eis que vieram, fagulhas que somem no rés do chão da ausência.

Os dois, então, prevalecem quase que sempre, na força de dominar os sentidos e reavivar as sensações que passam. A bem dizer, artesões das horas findas, salvam de si a responsabilidade, nessa prática de todos. Quais monstros devoradores das criaturas à busca de conhecer a saída de onde habitam, batem cabeça no frechar das portas do Infinito e caem exangues nas masmorras do Destino.

Isso assim, o rio informe do Tempo no formato de razão e coração, nas telas da consciência dos protagonistas que apenas somos e depois sumiremos pelo ralo desses nada que logo ali nos esperam de braços abertos nas malhas do mistério. Fossemos contrariar o filme que incansável projeta o senso nas telas dos instantes e disso qual o quê e aonde nos levariam os elementos de que somos formados, pois?

No entanto é que seja de tal modo inevitável e que aqui neste agora quedemo-nos à sorte da certeza de existir, a fim de continuar as longas histórias dos vivos em rumo do constante desaparecimento, enquanto longe pulsa impaciente o coração sob os olhos fixos de humanos pensamentos. Não fosse prudente, seria aquietar os sentimentos e adormecer nas malhas dos sonhos, corredores infinitos das possibilidades inexistentes, que vivam abertos na alma a essas interrogações, seres aflitos na visão de saber e luzes acesas da natureza que dorme na presença inesgotável deste pouso a que ora chegar possamos em certo dia de manhã.

Um comentário:

  1. Que riqueza de texto, razão e coração , tão bem relatado é descrito de forma filosófica e também real." O rio do tempo" este rio que segue sempre em frente e não volta. Tal qual a nossa vida que passa de forma tão rápida que se quer nos damos conta de quão presente é o nosso futuro.

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