Vê o tempo como uma imagem de sombras, fora dele está nossa verdadeira face. Jalal ud-Din Rumi
Ali na raiz de tudo quanto existe, nas dobras dessas noites que fogem na luz às sombras do dia, bem ali, repousam, em seus ninhos, os sonhos. Íntimo coração das existências, há em nós estes céus do Infinito que sacodem nossas almas diante da persistência do tempo, a escada que esconde a paz das horas. Ali, dentro das lembranças do quanto de histórias deixamos guardado, o mistério trabalha na oficina dos sonhos. E crescemos pouco a pouco pela face do firmamento, elaboramos a esperança e a fé, enquanto rugem as dores dos rios nas suas cachoeiras inesgotáveis de tanta maravilha.
Sacudimos passos nas estradas poeirentas do destino, olhos
fixos na felicidade, porém andarilhos de mundos até então desconhecidos.
Alimentamos o fulgor de perfumes e desejos, enquanto vivem os instantes das
horas dentro do tesouro desta realidade que o somos. Muitos dias, quantas luas,
no desfilar dos fenômenos que se desfazem imediatamente das nossas mãos. Nem os
imaginamos, e somem na trilha das ausências, numa velocidade incontrolável.
Pequenos, uns quase nada, testemunhamos esses fiapos coloridos que desparecem
dentro e fora da gente. Morada dos no entanto, persistimos na possibilidade dos
depois inexistentes. Lúgubres de talvez, avistamos o impossível nessas fagulhas
apressadas dos momentos que de nós se desprendem, nos devoram e fogem
indiferentes.
Assim, borbulhas desses mares de contrições, rendemos graças
ao calabouço de todos os credos, e adormecemos nos braços da vontade imprudente
que significamos. Andamos, andamos, e sonhamos, no pouco que nos resta, face a
face conosco e nossas apreensões. Quais escravos, pois, do tempo, num tal dia
ganharemos a liberdade tão sonhada neste sonho de viver eternamente as flores
da certeza no Eu da perfeição que já trazemos dentro de nós, ao sabor deste
tudo que se desfará em um Nada absoluto.
(Ilustração Jalal ud-Din Rumi).
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