A literatura exerce papel fundamental nos registros históricos, máxime nos interiores deste mundo afora. Pessoas vocacionadas a narrar o dia-a-dia das localidades destinam seus esforços ao ímpeto de guardar os detalhes dos tempos e da sociedade, recolhendo peças-chave nesse procedimento, deixando à posteridade gestos pessoais de preservar os acontecimentos. Por vezes personalidades anônimas que insistem na observação daqueles mais evidentes do grupo social, a descrever seus momentos, reunir fotografias, recortes de jornais e revistas, gravações, livros, convites, num afã inigualável perante os outros profissionais do cotidiano. Suas salas de estudos ganham a aparência de verdadeiros museus, com armários e estantes preenchidas de peças raras dos tempos passados, escrivaninhas abarrotadas de relíquias de época, num acervo de décadas a fio.
Bem assim vi de perto o território de trabalho de Raimundo Araújo,
desses historiadores inatos de Juazeiro do Norte, no Ceará. Jamais deu por
perdido contar a história do seu tempo da tradicional comuna do Cariri, onde
viveu e presenciou com esmero o transcorrer de quatro gerações, das quais foi
testemunha fiel de todos os instantes. Recolheu com afinco os documentos
exemplares da rotina do lugar e publicou vários livros contendo as narrações
autênticas frutos do seu espírito astuto de observação.
Estive com Raimundo nalgumas ocasiões, quando tratávamos de
temas ligados ao Cariri e, sobretudo, à Terra do Padre Cícero. Nas paredes do
seu escritório ali estavam as fotografias daqueles que admirava com
especialidade, entre políticos, religiosos, educadores, artistas, escritores, a
face do que guardava consigo na sua admiração de escritor e memorialista.
Sempre dotado de bom ânimo perante a vida, jamais esgotou a capacidade
produtiva no campo das letras.
Deste modo, transcrevo em rápidas pinceladas o retrato que
mantenho desse intelectual caririense, exímio apreciador das belas letras e
profícuo trabalhador da memória sulcearense, porquanto a grande literatura
sobrevive da obra desses heróis solitários que fazem da escrita um dever de
ofício em nome da perenidade da cultura humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário