terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Raimundo Araújo


A literatura exerce papel fundamental nos registros históricos, máxime nos interiores deste mundo afora. Pessoas vocacionadas a narrar o dia-a-dia das localidades destinam seus esforços ao ímpeto de guardar os detalhes dos tempos e da sociedade, recolhendo peças-chave nesse procedimento, deixando à posteridade gestos pessoais de preservar os acontecimentos. Por vezes personalidades anônimas que insistem na observação daqueles mais evidentes do grupo social, a descrever seus momentos, reunir fotografias, recortes de jornais e revistas, gravações, livros, convites, num afã inigualável perante os outros profissionais do cotidiano. Suas salas de estudos ganham a aparência de verdadeiros museus, com armários e estantes preenchidas de peças raras dos tempos passados, escrivaninhas abarrotadas de relíquias de época, num acervo de décadas a fio.

Bem assim vi de perto o território de trabalho de Raimundo Araújo, desses historiadores inatos de Juazeiro do Norte, no Ceará. Jamais deu por perdido contar a história do seu tempo da tradicional comuna do Cariri, onde viveu e presenciou com esmero o transcorrer de quatro gerações, das quais foi testemunha fiel de todos os instantes. Recolheu com afinco os documentos exemplares da rotina do lugar e publicou vários livros contendo as narrações autênticas frutos do seu espírito astuto de observação.

Estive com Raimundo nalgumas ocasiões, quando tratávamos de temas ligados ao Cariri e, sobretudo, à Terra do Padre Cícero. Nas paredes do seu escritório ali estavam as fotografias daqueles que admirava com especialidade, entre políticos, religiosos, educadores, artistas, escritores, a face do que guardava consigo na sua admiração de escritor e memorialista. Sempre dotado de bom ânimo perante a vida, jamais esgotou a capacidade produtiva no campo das letras.

Deste modo, transcrevo em rápidas pinceladas o retrato que mantenho desse intelectual caririense, exímio apreciador das belas letras e profícuo trabalhador da memória sulcearense, porquanto a grande literatura sobrevive da obra desses heróis solitários que fazem da escrita um dever de ofício em nome da perenidade da cultura humana.  

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