A sensação extrema de ter de cruzar o rio da existência e se deparar, do outro lado, com o eu espiritual, havendo de largar de vez por todas as emoções da carne, vencer os apegos e despertar do sonho de viver contradições de uma vida provisória, olhe o que seguiu da correnteza inevitável rio abaixo.
Por mais houvessem de lutar nesse campo de batalha, a enganar a si perante a transitoriedade do universo do Chão, os humanos padecem a síndrome da impermanência, todo tempo, e saber que existir nas batalhas que ora enfrentam significa tão só adiar esse encontro definitivo com o Eterno, ser que o somos sem alternativa se não viver.
Deslizar no fio do tempo e abrir mão do que deixa na estrada, eis o senso de habitar essa cápsula onde transitamos diante do desconhecido; saber que tudo acaba em um nada que pergunta pelas razões da consciência que carregamos conosco aqui dentro.
Enormes interrogações de matéria, vasos de profundidade infinita, luzes em formação, que tangemos feitos autores de nossas almas no dia seguinte da viagem, no entanto envoltos nos véus das escolhas insistentes. Aves de arribação de nós mesmos face do Absoluto. Artesões da compreensão do que virá e que plantarmos, infernos ou céus de frutos que semeamos.
Bem isso, o caudal do que cumprimos aqui, ainda quais aprendizes de dores e amores, olhos postos nas paisagens inesperadas da Justiça inevitável. Vilões e mocinhos das longas histórias de uma Humanidade inteira de que somos partes proporcionais às práticas dos vícios e virtudes, resumo das gerações que compõem na melodia das horas.
Portanto, aos passos e apalpadelas, construímos tal roteiro, nosso e dos demais; e sejamos dignos, pois, das boas novas de tantas notícias dos místicos que veem antes o que iremos ver após dobrar as fronteiras do definitivo, bem ali adiante, no vão da sorte que nos espera, o outro nome do Destino.
(Ilustração: Jogos infantis, de Brueguel o Velho).
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