Em meio dos viventes do Tatu, ele marcou a intermitência dessas memórias feito grude. Compadre Hipólito. Dos derradeiros a largar o sítio, ainda hoje dele persistem herdeiros, filhos que escolheram permanecer no lugar diante da derrocada dos tempos. Manoel, por exemplo, que mora numa das casas de taipa que restaram, lá em cima da represa do Açude Velho, com Zuca, um dos irmãos que ficou assim meio alheio do mundo, e talvez por isso resista à voragem dos desaparecimentos-lembrança.
Hipólito era compadre de meus avós. Dos moradores, o melhor ligado à casa grande, espécie de imediato em tudo. Ele mergulhava para abrir a bomba que deixava passar a água de abastecer fruteiras do brejo, logo abaixo da parede. Fôlego admirável. Os meninos sentavam só a olhar e acompanhar quanto tempo levaria debaixo d’água, gigante mergulhador que era. A gente estava quase desistindo, daí ele saltava na flor da água feito peixe grande.
Tirava leite das vacas bem cedo no curral, aonde bebíamos dos copos com canela o líquido espumante e morno, determinação de nossa mãe. Arriava os bezerros, tangia o gado no rumo da manga, cortava pasto e acompanhava os carneiros e cuidava de serviços no eito. Sempre na indumentária surrada, camisa de mescla e bermuda rota, escurecida de manchas das nódoas do trabalho; um facão embainhado pendendo da cintura; chapéu de palha encardido de sol e poeira; vozeirão manso, ritmado, cauteloso e fiel.
Bem depois, isto já longe de hoje, conversávamos numa de minhas idas ao antigo torrão natal, e ele observava meu interesse pela política. Daí me contou que nosso bisavô, Gustavo Augusto, insistia com meu avô a que entrasse na sucessão em Lavras, daí 12km. E vô respondia reticente:
- Gustavo, deixe eu aqui na calma do Tatu. Isso é assunto dos outros parentes, feitos nessas procuras.
Eita memória boa! Belas recordações...
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