quinta-feira, 26 de maio de 2016

Saudades do Paraíso

Às vezes me perguntam o porquê dessa mania de só querer ver o lado bom dos acontecimentos, evitando notícias torpes dos jogos de guerra e costumes em que buscam encher de lixo o dia-a-dia das informações que circulam, e paro avaliando o quanto de tempo já se perdeu a remoer as frações negativas desse quadro amargo daqui do chão, vendido ao preço módico de tremendas ilusões. Assim, insisto comigo mesmo de limpar o pensamento daquilo que mete medo, gera apreensão, preocupação, sobretudo que gera mágoa e revolta, reações que, no passado, mexeram comigo e fizeram de mim alguém que bem poderia ter sido diferente e melhor se houvesse plantado sentimentos leves desde então no horizonte de viver. 

As razões de amargurar os desânimos de tantos atos falhos da nossa humanidade quero, pois, atribuir à paixão que avassala os dias de armadilhas e tensões. Nisso procuro sobreviver em algum lugar de dentro da alma a saudade do universo perfeito que por certo ainda não conheço, porém que desejo sobremodo conhecer, vivenciar, insistir com a vontade das pequenas esperanças de paz, prosperidade, alegria, solidariedade entre os povos, mais justiça social, organização coletiva em favor dos viventes, longe dos apegos excessivos de grupos presos a motivos fúteis e riquezas adquiridas à força das armas, da imprudência. 

Produzir novos instrumentos de satisfação e bem-estar que signifiquem distanciamento da solidão e do egoísmo, vitória da boa vontade em prol das multidões esquecidas nos guetos e bares. Permitir sonhar longe das drogas, dos vícios nefastos, da violência e do desespero; fora das depressões e dos impulsos de crueldade característicos de milênios desta raça. Somente desse modo veremos a Deus, construiremos mundo de ricos virtudes e valores, acalmaremos a consciência no travesseiro do dever cumprido, restabeleceremos a luz da Natureza e seremos, sim, irmãos entre irmãos, aos moldes do Paraíso original de que falam as religiões, lá de antes da queda no mar de contradição onde ainda arrastamos as patas doloridas. Senhores de si, então, reveremos os tratados da civilização e conquistaremos o maior prêmio, a certeza, sempre, de um amanhã pleno de Amor no coração das existências.

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