O desejo forte que impulsiona o coração de encontro aos momentos impõe cuidado extremo nos gestos qual quem busca equilíbrio no fio tênue dos abismos ali embaixo. As disposições do apego, intenso gosto de achar motivos de viver com alegria, exigem lucidez por vezes inatingível aos comuns mortais. Um leque de beleza rara, leves toques de brisa suave nas manhãs, respingos da água do mar numa praia clara de sol aberto, o riso da pessoa amada em nossos braços e sonhos de felicidade que escorrem das lembranças de noites agradáveis, isso tudo significa vontade determinante de amar com sofreguidão as ondas passageiras desta película incessante que denominaram existência.
Porém há que se cuidar demasiadamente de todo detalhe, nas cenas que compõem o fluxo permanente que transcorre pelos dentes das horas e nos alimentam da continuidade. Parar impossível. Conter os gestos da natureza, impossível, conquanto a determinação de obedecer aos passos das circunstâncias significa a única certeza inevitável.
O que resta de permissão ofertada aos microrganismos que somos nós, pequeninos seres diante da infinita misericórdia de Deus... Espaços a preencher de milhões de mimos à sagração da vida, dentro de coração solteiro, argonauta dos destinos.
Nesse momento, cabe, creio, reordenar os sentimentos, trazer ao território da liberdade o pomo da conformação e aproveitar os melhores insumos que a história disponibilizar, no ato da visão providencial. Gostar da festa de viver onde nos encontrarmos, e abraçar de bom grado o mínimo do que chegar ao teto dos apetites, selecionar fiapos e tecer a paz de que se alimenta dos impulsos que a gente exerce... Pisar o próprio corpo do desejo e amar intensamente o que os outros permitem que façamos.
Na pauta desses momentos, traçar rotas reais, invés de amarguras e ilusões transitórias. Firmar pés na rocha da condição humana, sem medo que se interponha o vilão da desonestidade para conosco mesmos, porquanto a exigência virá de plantar a semente fértil da tranquilidade, ainda que diante dos obstáculos circunstanciais. Amar e ser amado com firme sabedoria, no itinerário de saber que somos fruto de nossos únicos gestos.
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