O domínio das palavras bem vale arte e sabedoria, a sabedoria clássica, sem ser essa dos conversadores inveterados que levam outros na conversa, demagogos interesseiros da política vulgar dos dias humanos. Controlar o instinto de falar para aproveitar o fôlego, preguiça de agir na coerência abandona o valor das palavras de uso certo na hora própria. Enquanto isto, o silêncio acalma e fortalece. Mas quão difícil preservar a compostura e dizer o verbo justo e crescer com ele.
Nos inícios, a humanidade vivia de imagens e sons guturais, espécie de animais aprendizes do que se seguiria. Imagens visuais, desenhos das presenças do contexto das matas, e repetições dos desejos através de gestos sonoros. Palavras, que é bom, nem de longe, nas quebradas e montanhas.
Depois, esse animal virou gente e passou a utilizar as fragrâncias nos livros e discursos, então nascia o ser sofisticado de projetos, negócios e calendários eleitorais.
Perpassados corredores, vieram de brinde os apetites gozosos da matéria falando mais alto no íntimo bloco do desejo. Instrumento de apego ao chão, o apetite fornece as justificativas de permanecer ligado ao corpo de matéria e requentar o real instante da separação definitiva de tudo que conhece através nas imagens e sons iniciais.
Fanáticos ainda dos afagos da carne viva que transportam, os antropóides deslizam pela pista do tempo esquecidos de levar em conta o que de essencial existe durante a história que constrói. O tão sonhado princípio da felicidade larga¬, pois, fora do processo de existir, porquanto o tempo não passa, e nós é que passamos. Até criamos o relógio, o calendário, os almanaques, a fim de enganar a nós mesmos.
Diante, destarte, da velocidade do ar que preenche pulmões e do sangue que alimenta o coração, palavras e apetites dominam a teatro das operações, roendo feito lixas amoladas o intervalo estreito de viver entre os dois mundos, o de dentro e de fora, o de fora e de dentro.
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