Dia desses, andando
pelo centro de Crato, ali pelo Calçadão da José de Alencar, me deparei com Zé
Maguim. Este, ao me cumprimentar, estendeu uma folha impressa e disse:
- Professor, isto é
seu – agradeci e vim adiante nos meus passos.
Rápido li rápido: uma
dessas histórias medievais por vezes contemporâneas, que, já em casa, acompanhei
mais de perto. Imaginei que a intenção do amigo fora pedir que, no gosto de
escrever, contasse aos demais o teor que agora e aqui o faço:
Lenda antiga narrava
dificuldades de religioso quando acusado injustamente de tirar uma vida, nos
tempos da Idade Média. O real autor do homicídio desfrutava de posição
inatacável, e isso exigia bode expiatório para simular a autoria e reparar o
crime, escolha que caiu no pobre cidadão sem prestígio.
Trazido às malhas de
tribunal viciado, o homem sentiu de perto a pouca chance de sobreviver, vistos interesses
de quem, de fato, cometera o delito. Ainda que perante circunstâncias incertas,
o religioso confiou às suas fervorosas orações a esperança de solução favorável,
que o livrasse da morte no caso.
Dia do julgamento. O
juiz expôs aos presentes que devido à insuficiência das provas, se via em
dificuldade para sentenciar o réu. E que resolvera transferir ao juízo de Deus
a decisão que lhe cabia. Nisto, escrevera em dois e papéis as alternativas culpado e inocente, no sentido de permitir que o próprio envolvido resolvesse
o seu destino.
Deixa que em ambos os
papéis o magistrado colocara um termo único e inapelável, culpado, com isso encaminhando à forca dito acusado, providência
nefasta das épocas sombrias que vão longe nas folhas da história.
Perdido se achava o
ermitão face aos meios que dispunha. Não viu, pois, senão o gesto de agarrar um
dos papéis que lhe eram oferecidos e, ato contínuo de quem escolheu a sorte
derradeira, jogá-lo na boca e engolir, aos olhos acesos de todos que assistiam ao
julgamento.
Na hora solene, a extática
multidão emitiu imenso ooooooooohhhh!
Sobrou ao juiz seguir
com a audiência tão só abrindo o papel que ficara preenchido com a palavra culpado. O homem escolhera a liberdade, que
de pronto lhe concederam.
Essa história, na
nossa versão, mostra clara a chance de justiça soberana em qualquer ocasião; quando
tudo parecia levar a contradições, persistiu caminho verdadeiro da Lei.
Desistir, jamais!
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