segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Fantasmas da solidão

Do Amor procedemos, e com Ele fomos criados. Assim, ao Amor tendemos, e a Ele estamos consagrados. Ibn Arabi

O medo que, de si mesmo, isso ocasiona, de querer fugir sem ter aonde se esconder. Instinto do ego, a luta de esquecer o passado e correr ao futuro prevalece. À medida do tempo, vem o gosto de conhecer o abismo da Consciência. Desejo ardente de neutralizar a ausência incontida, fonte de tantas angústias, daí esse fator que permanece no querer das criaturas. Ninguém que seja capaz de avaliar a importância de querer algo com toda força. Nas doses extremas de dor, correm à embriaguez, à fome de conter, neutralizar, o que restringe descobrir o gosto do equilíbrio. Mascarar a própria presença. Esses fantasmas chegam, passo a passo, diante da solidão. Quando seria o instante de encontrar o ser que somos de verdade, nesse momento avançar nos apetites da matéria é desfazer a oportunidade do encontro.

São muitos os nomes a isso, à feliz realidade no encontro consigo mesmo. O vazio deixado pelo tempo que escorre no firmamento somos nós. Aprendizes do Destino, e apenas observamos um jeito de responder à maior das interrogações. Frutos doces da Eternidade, contemplamos o Infinito feitos peças ocultas desse imenso painel das luzes em movimento. Quantas vezes, olhos postos no mistério, observamos finais do dia sem conhecer a raiz do que nos trouxe aqui. Fronteira entre o tudo e o nada, tão só avaliamos grosso modo o motivo da estar neste mundo. As causas, os valores que viajam pelos céus.

Talvez por isso de ser assim, padeçamos, questionemos a forma ideal de tocar as fímbrias das madrugadas e que possamos despertar, de uma vez por todas, deste sono que nos envolve e, nalguns lugares, embriaga. Nem de longe há o prumo definitivo de conter o desenrolar dos séculos com facilidade. Pulseiras do teatro desse tempo, avaliamos constantemente a solução de tudo. Fitamos longe as luas e adormecemos nos sonhos. A música das nuvens que passam bem que pode, lá um dia, tocar o nosso coração e revelar o enigma que ora somos. Estejamos atentos, pois.

(Ilustração: Ibn Arabi, reprodução).

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