quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

E dizem que os objetos têm vida


Isso nesse tempo em que máquinas parecem já adotar comportamentos humanos, em que se acredita mais nas mídias do que na realidade; que faz algum sentido imaginar isto. Onde os humanos querem resolver tudo de dentro das engrenagens que criaram no decorrer dos tempos, desde laboratórios matemáticos de contar partículas do sangue às retroescavadeiras, drones, ultrassons, câmeras, monitores, radares, foguetes, etc. 

Um tempo na Bahia, e colega do banco me contava emocionado a respeito da Rural que possuía, para ele mais que só um bem de família, um dos seus membros. Detalhou lá certo dia que haviam viajado, no final de semana, ao interior e, ao voltarem, no domingo à noite, ele narrava: 

- Veja o quanto ela gosta da gente; aguentou chegar na porta de casa, depois de longa travessia; e nessa hora é que ouvimos um estalo forte, acabava de quebrar a barra da direção. – E sensibilizado considerou: - Ela resistiu até o derradeiro momento, a fim de não sacrificar minha família – afirmava quase com lágrimas nos olhos, de voz embargada. 

Daquele tempo distante, relembro essa história e trago à cena os dias atuais, quando tantos, nesta hora, estão de vistas fincadas nos pequenos celulares, a viajar mundos adentro, quase a viver diante de oráculos fieis, irretocáveis. Agora, da mais tenra idade aos provectos, todos firmam seus movimentos e preferências nas luzes das telinhas sensibilizantes, objetos de primeiríssima necessidade, que riem, falam, denunciam, mentem, desmentem, alimentam, dão as horas, o clima, a localização, as músicas, os filmes, os medicamentos, as preveem, profetizam; verdadeiros arautos das populações, são maquininhas que parecem controlar o Planeta, tal num abrir e fechar de olhos. 

Nisso lembro os livros e filmes em moda na década de 60 do século anterior, Admirável mundo novo, 1984, O Céu e o inferno, Laranja mecânica, Fahrenheit 451, As crônicas marcianas, As portas da percepção, Utopia 14, etc., ali prevíamos existiriam outros níveis de compreensão nas máquinas, em que elas imporiam o risco de demonstrar   humanização compatível ao próprio ser humano. 

Por vezes, imagino mesmo que vivamos era de intensas contradições e acesas expectativas de presenciar com clareza qual o lugar de cada vivente; caso mecânico, entre as máquinas; caso animais pensantes, entre os pares ditos inteligentes.


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