quarta-feira, 13 de junho de 2012

Uma historinha construtiva


Dia desses, andando pelo centro de Crato, ali pelo Calçadão da José de Alencar, me deparei com Zé Maguim. Este, ao me cumprimentar, estendeu uma folha impressa e disse: 

- Professor, isto é seu – agradeci e vim adiante nos meus passos.

Rápido li rápido: uma dessas histórias medievais por vezes contemporâneas, que, já em casa, acompanhei mais de perto. Imaginei que a intenção do amigo fora pedir que, no gosto de escrever, contasse aos demais o teor que agora e aqui o faço: 

Lenda antiga narrava dificuldades de religioso quando acusado injustamente de tirar uma vida, nos tempos da Idade Média. O real autor do homicídio desfrutava de posição inatacável, e isso exigia bode expiatório para simular a autoria e reparar o crime, escolha que caiu no pobre cidadão sem prestígio.

Trazido às malhas de tribunal viciado, o homem sentiu de perto a pouca chance de sobreviver, vistos interesses de quem, de fato, cometera o delito. Ainda que perante circunstâncias incertas, o religioso confiou às suas fervorosas orações a esperança de solução favorável, que o livrasse da morte no caso.

Dia do julgamento. O juiz expôs aos presentes que devido à insuficiência das provas, se via em dificuldade para sentenciar o réu. E que resolvera transferir ao juízo de Deus a decisão que lhe cabia. Nisto, escrevera em dois e papéis as alternativas culpado e inocente, no sentido de permitir que o próprio envolvido resolvesse o seu destino. 

Deixa que em ambos os papéis o magistrado colocara um termo único e inapelável, culpado, com isso encaminhando à forca dito acusado, providência nefasta das épocas sombrias que vão longe nas folhas da história.

Perdido se achava o ermitão face aos meios que dispunha. Não viu, pois, senão o gesto de agarrar um dos papéis que lhe eram oferecidos e, ato contínuo de quem escolheu a sorte derradeira, jogá-lo na boca e engolir, aos olhos acesos de todos que assistiam ao julgamento.

Na hora solene, a extática multidão emitiu imenso ooooooooohhhh!

Sobrou ao juiz seguir com a audiência tão só abrindo o papel que ficara preenchido com a palavra culpado. O homem escolhera a liberdade, que de pronto lhe concederam.

Essa história, na nossa versão, mostra clara a chance de justiça soberana em qualquer ocasião; quando tudo parecia levar a contradições, persistiu caminho verdadeiro da Lei. Desistir, jamais!

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